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Crónicas do quinto império: Campeões esquecidos

Aos 16 anos tive uma das maiores desilusões desportivas da minha vida: quando dei conta que o hóquei em patins, única modalidade em que éramos campeões mundiais, afinal não tinha qualquer expressividade no resto do mundo e só justificava, quando muito, uma notícia de 12 linhas nos principais jornais desportivos da Europa.

Joaquim Ruivo, professor jruivo2@sapo.pt

Aos 16 anos tive uma das maiores desilusões desportivas da minha vida: quando dei conta que o hóquei em patins, única modalidade em que éramos campeões mundiais, afinal não tinha qualquer expressividade no resto do mundo e só justificava, quando muito, uma notícia de 12 linhas nos principais jornais desportivos da Europa.

Ruiu, assim, no final da minha adolescência, uma parte da minha autoestima enquanto garboso português. Afinal ninguém nos conhecia, ninguém falava em nós.

O desencanto deu lugar, pouco depois, à indignação quando constatei numa publicação francesa sobre os grandes descobridores que o único português biografado era Fernão de Magalhães.

Em demasiadas ocasiões, posteriormente, me revi nesse parágrafo de Fernando Pessoa do guia Lisboa: O que o Turista Deve Ver de 1925: “Para o britânico médio e, de facto, para qualquer pessoa média (exceto o espanhol) fora de Portugal, este é um pequeno país algures na Europa, que por vezes se supõe pertencer a Espanha…”.

Pouco nos serve garantir que agora já não é bem assim. Demasiada gente por esse mundo fora continua a conhecer-nos tão mal como se conhece qualquer periferia. E, no entanto, é tão estranha e injusta a forma como somos esquecidos ou nos deixamos esquecer. Não apenas porque temos uma História extraordinária, mas porque são milhões os portugueses e seus descendentes que habitam os quatro cantos do mundo, porque falamos uma das línguas mais numerosas do planeta, porque somos realmente excelentes em muitas das coisas que concebemos e construímos.

Capazes do melhor e do pior, os portugueses por qualquer estranho desígnio raramente conseguem promover o melhor, demasiadas vezes fazem o pior.

Nada mais interessante, a este propósito, que olharmo-nos com os olhos dos outros. Thomas Walgrave é o diretor do Alkantara Festival, vive em Portugal desde 2005 e escreveu no Up Magazine: “Acho que na sua alma, Portugal é um país muito complexo. Eu fico completamente emocionado quando vou para o Cabo de Sagres e penso nesse projeto maluco dos portugueses, de irem até ao fim do mundo. E a sensação que se tem hoje é que esta nação pensa que o grande trabalho está feito e não é preciso afirmar-se como país (…). O resultado é uma sociedade com duas velocidades, com pessoas de qualidade verdadeiramente excecional e, em paralelo, pessoas capazes de uma falta de profissionalismo impensável”.

(texto publicado na edição em papel de 1 de junho de 2012)