Assinar
Ilustração do rosto de Patrícia Duarte

Patrícia Duarte

Diretora-adjunta

Mais e melhor informação por favor

Num contexto tão favorável à proliferação da mentira, informar tem de ser uma preocupação constante, com recurso a todas as vias de comunicação.

As máscaras deslizam cara acima cara abaixo. As mãos são desinfetadas à entrada dos espaços comerciais. À saída poucos se lembram. A mesa do café é higienizada. Ficam por limpar as cadeiras. Na hora de pagar, há quem toque no dinheiro sem pruridos e há quem o desinfete. Nada tem critério.

O coronavírus anda aí, mas estamos longe de perceber como “anda”. Se a transmissão por objetos fosse tão elevada como se supunha no início, a esta hora todos estaríamos contaminados. Tudo está conspurcado.

Na semana passada, JP Cansado Carvalho, médico radiologista, assinou um artigo no jornal Observador sobre as falsas ideias da Covid-19 e o imperativo de as “deitarmos fora”. Falava o clínico da “necessidade quase paranoica da sanitização infindável” e dava um exemplo: “continuar a ver, neste mês de agosto, um banheiro a despejar desinfetante sobre espreguiçadeiras de praia à torreira do sol que, por sinal, até destrói o coronavírus, é patético e ridículo”.

Em que ficamos afinal? O conhecimento médico sobre a doença tem estado a evoluir, mas o resultado dos estudos não está a chegar de forma clara e rigorosa às pessoas. Seria útil reforçar a informação oficial e validada. Atualizá-la em função do que se vai aprendendo sobre a doença, a começar pelo uso de máscara na via pública e a acabar neste vício de limpar tudo o que nos rodeia.

Todo este “teatro”, como referia o médico, “tem custos económicos, sociais e ambientais brutais”. E este é o tema: quanto vamos nós pagar pela ausência de informação credível, clara e rigorosa?

Num contexto tão favorável à proliferação da mentira, informar tem de ser uma preocupação constante, com recurso a todas as vias de comunicação.
Quanto à necessidade de higienizar, que se faça, entretanto, alguma luz.

Se esta obsessão continuar, por estes dias, no ato de pagar, ainda nos perguntam: “É dinheiro limpo ou dinheiro sujo?”.