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Partilhando: Pés-de-chumbo

Aceitei o desafio da minha querida amiga Cláudia e tive o privilégio de integrar esta turma de vinte e três pais e mães, a maioria uns literais pés-de-chumbo.

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Cristina Barros, professora do IPLeiria e presidente da Incubadora D. Dinis cristinabarros.rl@gmail.com

A coreógrafa e bailarina Cláudia Cardoso, diretora da Escola de Dança Staccato, teve este ano a ousadia de desafiar os pais dos seus alunos a participarem no espetáculo final da escola , com coreografias de dança contemporânea.

“Alma Lusa” foi o nome escolhido para este evento, dedicado à música portuguesa, e que esgotou, no dia 15 de junho, o Teatro José Lúcio da Silva. As coreografias escolhidas foram dançadas ao som dos Xutos e Pontapés e da “Lenga-Lenga” dos Gaiteiros de Lisboa, que fechou o evento.

Aceitei o desafio da minha querida amiga Cláudia e tive o privilégio de integrar esta turma de vinte e três pais e mães, a maioria uns literais pés-de-chumbo, como eu, que nunca tinham pisado um palco e que foram ganhando leveza à medida que a professora ia “limpando” os movimentos. Começámos com ensaios às sextas à noite que se foram intensificando aos sábados e feriados.

Formou-se assim um grupo de “bailarinos” de dança contemporânea completamente improvável, que rompeu com paradigmas e estereótipos deste tipo de atividades. Não interessava o que cada um fazia ou quem era na sua vida particular ou profissional. Ali éramos os pais que tinham a responsabilidade de dançar ao lado dos filhos e principalmente de se divertirem.

É óbvio que seria muito mais simples e cómodo estar sentado a assistir, ao invés de ir para os bastidores e sentir a adrenalina de participar num espetáculo com mais de 150 bailarinos, com idades entre os três e os quarenta e tal anos.

Confesso que estava um pouco apreensiva pois na semana anterior ao espetáculo tinha estado fora e tinha faltado aos principais ensaios, para além de ter imensas dúvidas nas coreografias. Mas o grupo foi fantástico, agendou aulas extra e ajudou-me a decorar os passos.

Creio que entrámos todos a medo, naquele fabuloso palco do nosso teatro, mas depois tudo correu como previsto e aquilo que parecia inalcançável, foi uma realidade. Os pés-de-chumbo tiveram a leveza suficiente para se elevarem e a força para se agarrarem ao chá quando a coreografia assim o pedia.

O resultado foi uma ovação do público, uma carga de nervos e um grupo de amigos que não se conheciam e que, pela mão de uma coreografa incrível, criaram algo inédito e que à partida parecia impossível.

Os pés-de-chumbo acreditaram que podiam ser diferentes e especiais e assim aconteceu e à nossa Cláudia o devemos!

(texto publicado na edição de 10 de julho de 2014)