Assinar

Pedaços de nós: A Face Humana das Migrações em Portugal

Mais do que “dar o peixe” devemos “ensinar a pescar”, como prega o provérbio chinês.

Susana-s-ferreira
Susana S. Ferreira, voluntária da AMIGrante e investigadora na área das migrações e segurança srsferreira@gmail.com

No passado dia 5 de setembro, a AMIGrante promoveu umas Jornadas subordinadas ao tema “A Face Humana das Migrações em Portugal”, onde convidou um grupo de especialistas a refletir sobre a última década de migrações no nosso país e a perspetivar o futuro.

Porque a “face humana das migrações” são os migrantes que todos os dias nos procuram no sentido de obterem ajuda nas mais diversas questões. Mais, são todos os migrantes anónimos com que todos os dias nos cruzamos. São todos eles que, na sua individualidade, dão rosto às migrações em Portugal.

Recordo rostos e histórias de vida que me marcaram enquanto voluntária da AMIGrante e técnica do Centro Local de Apoio à Integração do Imigrante (CLAII). Partilhei com muitos das suas alegrias e tristezas: do bebé que nasceu cá em Portugal, aos filhos que tiveram que deixar longe; dos sucessos profissionais, à tristeza da partida por não conseguirem encontrar emprego. Cada um com o seu percurso e história de vida únicos. Juntos celebrámos a diversidade em encontros e convívios interculturais, dos almoços do Dia de África, à Festa dos Povos.

Todos nós somos também o rosto de uma sociedade que se preocupa e deve denunciar injustiças e apoiar a regularização de situações. Daí que estas Jornadas tenham servido como um espaço de debate e partilha de experiências. Procurámos compreender melhor a realidade dos imigrantes em Portugal, bem como da emigração portuguesa. Conhecer as principais tendências e perfis migratórios, as dificuldades com que os portugueses se deparam no estrangeiro, o contributo dos imigrantes para a economia portuguesa, bem como para a estrutura demográfica nacional, refletir sobre as questões da construção identitária e ainda os desafios que colocam às nossas sociedades.

No Ano Europeu dos Cidadãos é essencial impulsionar uma cidadania ativa, pois a construção da justiça social depende de uma sociedade democrática com um envolvimento ativo e consciente dos cidadãos nacionais e estrangeiros. Mais do que “dar o peixe” devemos “ensinar a pescar”, como prega o provérbio chinês. Ou seja, devemos dotar os cidadãos estrangeiros de instrumentos e competências que lhes permitam vingar na sociedade de acolhimento e ainda capacitar os profissionais dos mais variados sectores a trabalhar com o “outro”.

A sociedade humana é feita de rostos, que todos juntos contribuem para o desenvolvimento humano.

(texto publicado na edição de 3 de outubro de 2013)