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Pedaços de nós: De caminhos de esperança a via de morte?

A Organização Internacional das Migrações estima que só na última década cerca de 8 mil pessoas perderam a vida nesta travessia.

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Susana S. Ferreira, voluntária da AMIGrante e investigadora na área das migrações e segurança srsferreira@gmail.com

Em visita recente à ilha de Lampedusa (Itália), o Papa Francisco relembrou todos aqueles que têm morrido na tentativa de encontrar um “porto seguro” na Europa, trazidos por “barcos que em vez de ser uma rota de esperança, foram uma rota de morte”.

As motivações para migrar são as mais variadas: razões económicas, políticas, culturais e até ambientais. Muitas vezes apenas uma questão de sobrevivência. A procura de um “porto seguro” onde possam recomeçar as suas vidas.

Vítimas de pobreza, privados dos seus direitos e liberdades, ou até vítimas de perseguição ou violência, os migrantes veem frequentemente a sua segurança humana posta em causa. A ânsia pela garantia da segurança e dignidade torna-os vulneráveis e acabam facilmente por cair nas mãos de máfias organizadas ou redes de tráfico de seres humanos.

A Organização Internacional das Migrações estima que só na última década cerca de 8 mil pessoas perderam a vida nesta travessia, mas os números reais serão certamente superiores.

Do outro lado Atlântico, na fronteira terrestre entre os EUA e o México, existe já aquilo a que muitos chamam de uma verdadeira “zona de guerra”. Mais de 18 500 efetivos patrulham esta fronteira e a nova Lei da Imigração, proposta em julho passahhdo, visa duplicar este número. A estratégia de “prevenção pela dissuasão” recorre às mais inovadoras tecnologias de segurança e vigilância: câmaras de vigilância, sensores, drones (avião não tripulado)… Para além disso, os imigrantes têm ainda que atravessar o árido deserto do Arizona, também conhecido como “corredor da morte”.

Apesar do decréscimo do número de travessias ilegais, são ainda milhares os que procuram entrar por esta via nos EUA (muitos deles desempregados, devido a embargos dos próprios EUA), arriscando a vida nesta travessia na esperança de um futuro melhor.

Num mundo globalizado em que as distâncias se estreitam e as trocas de bens, serviços e pessoas se intensificam, as assimetrias sociais e as desigualdades económicas agudizam-se e colocam em causa a segurança humana dos cidadãos. Não podemos cair naquilo a que o Papa Francisco chamou a “globalização da indiferença”, ou seja, desresponsabilizarmo-nos daquilo que não nos diz respeito.

(texto publicado na edição de 8 de agosto de 2013)