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Pedaços de nós: As “gaiolas douradas” da emigração portuguesa

Viajaram apenas com uma mala cheia de sonhos, muitos deles arriscando a própria vida na viagem “a salto”.

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Susana S. Ferreira, voluntária da AMIGrante e investigadora na área das migrações e segurança srsferreira@gmail.com

São cerca de cinco milhões os portugueses espalhados pelo mundo. Um número em contínuo crescendo. O Instituto Nacional de Estatística (INE) estima que quase 200 mil portugueses saíram de Portugal entre 2011 e 2012. Na sua maioria são jovens entre os 25 e os 29 anos. Angola, Reino Unido, Suíça, Espanha, Alemanha, Luxemburgo, Brasil e Holanda são, segundo o Observatório da Emigração, os principais países de destino da “nova” emigração portuguesa.

Esta realidade remete-nos para a da emigração portuguesa das décadas de 1960-70. Na altura viajaram apenas com uma mala cheia de sonhos, muitos deles arriscando a própria vida na viagem “a salto”. Mas a determinação e a vontade de vencer ajudou a fazer a travessia e a ultrapassar a barreira da língua (muitos não sabiam inclusive ler nem escrever). Hoje, talvez levem na bagagem um diploma e outras competências, e em muitos casos têm já perspetivas profissionais, mas muitos há que partem com o coração triste. A coragem é o denominador comum a ambas as vagas.

O filme “A Gaiola Dourada”, de Ruben Alves, que através de jogos com os estereótipos retrata a emigração portuguesa da década de 1960, trouxe-me à memória experiências vividas na primeira pessoa. A nova língua que se inventa, numa mistura entre o português e a língua do país de acolhimento. A vivência intensa da cultura portuguesa, do fado ao folclore, nos centros portugueses, onde se reúnem para “tomar uma bica”. É ter um Galo de Barcelos ou um Santo António na cozinha. É o sonho de um dia regressar a Portugal. É, acima de tudo, o orgulho de ser português.

Porque estar emigrado é pertencer a dois mundos, é ter um pé cá e outro lá. E é esta riqueza da emigração, as experiências que se adquirem. É aqui que a palavra “saudade” ganha uma outra dimensão. As novas tecnologias hoje já permitem encurtar as distâncias e um contacto mais permanente com quem está longe. Contudo, não substituem o calor de um abraço apertado da família e dos amigos.

Lá fora os emigrantes portugueses são os verdadeiros embaixadores do país. São eles que nos seus triunfos profissionais e pessoais elevam o nome de Portugal. Portugal deve também aprender a reconhecer o seu valor e potencial.

Continuem a fazer a diferença, a voar bem alto e a levar o nome de Portugal por esse mundo fora.

Aos emigrantes portugueses, coragem e bem-haja pelo vosso exemplo!

(texto publicado na edição de 5 de setembro de 2013)