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Artista analista: Sou feliz quando posso

Sou feliz quando gostam de mim, quando sou ouvido e concordam com o que digo, quando gostam do que faço, quando não me chateiam.

António Cova, músico af.cova@gmail.com

Sou feliz quando gostam de mim, quando sou ouvido e concordam com o que digo, quando gostam do que faço, quando não me chateiam. Sou feliz quando só faço o que me apetece, quando tenho dinheiro. Se não tivesse de trabalhar para o conseguir, ainda mais feliz seria.

Sou feliz de cada vez que a gasolina baixa dois cêntimos e o meu carro não dá problemas durante três meses. Sou feliz quando tenho as contas em dia e me paga quem deve. Não gosto nada de estar doente, sou bastante infeliz quando isso acontece, não há maior felicidade que estar saudável. Por perverso que pareça, sou feliz com a infelicidade de alguns, sobretudo de todos aqueles que transtornam a minha estabilidade. Sou estupidamente feliz quando um post que coloco no facebook tem muitos likes e é partilhado, não gosto quando me criticam ou sou difamado nas redes sociais, embora seja muito feliz com tudo aquilo que me leva a ser severamente criticado. Sou feliz quando bebo um café e fumo um cigarro e sou infeliz quando não faço as duas coisas ao mesmo tempo. Sou feliz de cada vez que faço uma viagem e não tenho um acidente, quando não me magôo. Sou infeliz quando está frio e saio à rua sem trazer o casaco ou quando está sol e não tenho óculos escuros. Sou feliz sempre que regresso a casa das férias, depois de ter sido feliz ao me afastar dela por uns tempos. No geral, sou mais vezes feliz do que infeliz, embora fosse mais fácil ser feliz sempre que me apetecesse.

(texto publicado na edição de 24 de agosto de 2012)