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Tempo incerto: Danos colaterais

Existe um profundo descontentamento em relação à forma como se vem fazendo política que tem agravado o fosso entre os cidadãos e os seus eleitos e desgastado as instituições representativas.

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José Vitorino Guerra redacao@regiaodeleiria.pt

Existe um profundo descontentamento em relação à forma como se vem fazendo política que tem agravado o fosso entre os cidadãos e os seus eleitos e desgastado as instituições representativas. Este fenómeno caracterizou, também, o período que se seguiu, na Europa, à 1ª Guerra Mundial e à Grande Depressão de 1929 e levou à ascensão dos totalitarismos.

A crise financeira em que nos encontramos envolvidos gerou, pela metodologia utilizada para a combater, um monstruoso desemprego nos países da Europa do Sul. Os programas de austeridade e a redução brusca e brutal das despesas do Estado conduziram à asfixia do mercado interno e à recessão. A crise das dívidas soberanas passou a ter como rosto mais visível o empobrecimento e o desemprego em larga escala. Na situação portuguesa, além da destruição de sectores económicos, continua a ocorrer uma emigração em massa, cujos efeitos a médio e longo prazo estão por aferir.

As elevadas taxas de desemprego vieram agravar o fosso entre os países do Euro e questionar as reais intenções da estratégia alemã para a crise. O desemprego não atinge apenas sectores antiquados da economia, mas os jovens e a classe média, que representa uma almofada social para o funcionamento das democracias. Este tipo de desemprego provoca uma mudança de estatuto social com consequências na estrutura, na imagem e na coesão da sociedade. Não é de estranhar uma crescente quebra da confiança, o alastrar de um sentimento de insegurança e a expansão do ressentimento contra os políticos, as instituições e em relação aos que ainda possuem trabalho ou se encontram vinculados a serviços estatais.

Degradou-se a ideia de salvaguarda do interesse nacional, de serviço público e os valores reduzem-se, muitas vezes, a um salve-se quem puder, alicerçado na exaltação do fundamentalismo de mercado e na redução da capacidade do Estado fornecer protecção social aos cidadãos. Ora, o fundamentalismo do mercado e a amoralidade não se podem substituir à consciência cívica e pública, sob pena de graves consequências a nível social, institucional e político.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 9 de janeiro de 2014)