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Tempo incerto: O TU-95

José Vitorino Guerra
José Vitorino Guerra

A notícia da semana foi o Tupolev TU-95 Bear, um modelo de avião bombardeiro, produzido pela antiga URSS, durante a Guerra Fria, e que, agora, é utilizado pela Rússia, principalmente, em missões de reconhecimento a longa distância. O TU-95, com inusitado sucesso, conseguiu sobrepor-se ao ruído proveniente do governo, em período de discussão do orçamento.

Num outro país que se levasse mais a sério, o voo dos TU-95, em espaço sob jurisdição nacional, não deixaria de ser considerado motivo de debate sobre a política de defesa prosseguida pelo governo e as vulnerabilidades das Forças Armadas, já que, em última instância, se trata da segurança da população.

Era importante promover-se um amplo debate nacional sobre as Forças Armadas e os meios de que dispõem para executar os objectivos definidos pelo poder político, no actual contexto internacional, demasiado incerto e volátil.

Seria interessante saber-se o que pensa a elite política sobre a privatização das escassas empresas do sector da Defesa, as insuficiências do nosso sistema de forças, a total fragilidade da defesa antiaérea terrestre, a nula capacidade antimíssil, a carência de pilotos, a falta de treinos e de meios de manutenção, bem como sobre o cancelamento da construção dos navios de patrulha oceânica para a Marinha.

Portugal possui seis F-16MLU na Lituânia, integrados numa missão NATO, para o policiamento aéreo do Báltico, zona que a Rússia considera do seu interesse estratégico, e Putin aproveita a ocasião para mostrar a bandeira junto à costa portuguesa, num patamar inferior ao simulacro de ataque ensaiado pelos russos em relação a Estocolmo, na Suécia, em 2013, e à ilha de Bornholm, na Dinamarca, em 2014, no contexto da reafirmação do potencial militar russo à escala global.

Ao contrário do que demasiada gente pensa, Portugal não está ao abrigo dos conflitos político-militares que ocorrem em diferentes pontos do globo e, em particular, na Ucrânia.

O nosso país não tem capacidade de defesa própria e só a pode assegurar no âmbito da NATO, mas deve possuir os meios bastantes de dissuasão, adequados a garantir a defesa do espaço continental e insular, sob risco de gerar um sentimento de insegurança e perder, de forma crescente, soberania.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 6 de novembro de 2014)