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Tempo incerto: Os militares e a política

Os desafios que o tempo presente coloca à sociedade portuguesa exige que os responsáveis políticos olhem para o nosso passado e retirem daí todas as consequências.

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José Vitorino Guerra

Portugal tem uma dívida de gratidão para com todos os que lutaram contra a Ditadura, qualquer que fosse o seu pensamento político ou ideologia, até que o regime criado por Salazar, enredado nas suas contradições e politicamente esgotado, soçobrou às mãos dos militares.

No turbilhão que se seguiu à descoberta da Liberdade, o País conseguiu evitar a guerra civil e estabilizou democraticamente, após o 25 de Novembro de 1975, graças, de novo, aos militares e à crescente consciência política dos portugueses.

Hoje, as Forças Armadas garantem a legalidade democrática e são um factor de estabilidade institucional.
Em termos históricos, os militares têm estado no centro da vida política portuguesa, desde as Invasões Francesas e da primeira tentativa de implantar o Liberalismo em 1820.

Os militares estiveram envolvidos em todos os pronunciamentos, insurreições, golpes de Estado e guerras civis que marcaram o século XIX e as primeiras décadas do século XX. As rupturas políticas e as mudanças de regime ficaram sempre a dever-se à acção do Exército e, algumas vezes, da Marinha.

E mesmo o Estado Novo, que lança as suas raízes no movimento militar do 28 de Maio de 1926, na ressaca da 1ª Guerra Mundial, defrontou-se, ao longo da sua existência, com diversas revoltas e tentativas golpistas, nascidas nos quartéis, para derrubar o Ditador.

Diversos estudos apontam para que as intervenções militares de ruptura ocorram quando se dá a erosão política do Estado, em situações de grave crise nacional e os regimes se encontram esgotados e divorciados da generalidade da população, a par de questões corporativas internas das Forças Armadas. Nestas circunstâncias, os militares assumem a responsabilidade política da mudança de regime.

Os desafios que o tempo presente coloca à sociedade portuguesa exige que os responsáveis políticos olhem para o nosso passado e retirem daí todas as consequências. Por alguma razão, Portugal, uma das mais velhas nações da Europa, apenas conhece um regime democrático institucionalizado através das portas que o 25 de Abril abriu.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 24 de abril de 2014)