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Tempo incerto: Um preocupante desencanto

Não posso deixar de partilhar a preocupação de um crescente número de portugueses com a qualidade da democracia e a sustentabilidade dos seus princípios organizacionais, perante o pântano em que se vem transformando a vida pública e que, numa situação extrema, pode acabar por sufocar a liberdade e o regime.

redacao@regiaodeleiria.pt

Não posso deixar de partilhar a preocupação de um crescente número de portugueses com a qualidade da democracia e a sustentabilidade dos seus princípios organizacionais, perante o pântano em que se vem transformando a vida pública e que, numa situação extrema, pode acabar por sufocar a liberdade e o regime.

Não merecemos andar permanentemente mergulhados num quotidiano de escândalos em que se deixou cair uma parte significativa da elite dirigente e da sociedade, por ambição desmedida, corrupção ou silenciosa e cúmplice conivência, incapaz de distinguir entre o bem e o mal. Escândalos que suspeitamos não serem ainda mais, em razão de quem os investiga não ter os meios adequados para aprofundar e alargar a sua capacidade de acção e de intervenção.

Não merecemos a contínua perda da autoridade do Estado, da dignidade institucional e do sentido de serviço público e muito menos merecemos o esvaziamento da soberania que nos vai transformando num país dependente e conformado.

Não merecemos as profundas desigualdades sociais nem as enormes bolsas de pobreza e muito menos ser olhados como “uma potência do futebol” onde tudo se pode passar impunemente por muitas zonas sombrias e de violência que gravitem em torno da bola.

Perante a situação social e a prática política que se vem arrastando há muito tempo, num crescendo de degradação, não é de estranhar que muitos se afastem dos valores, da participação cívica e dos comportamentos que devem sustentar a democracia e outros achem que “é tudo farinha do mesmo saco.”

À medida que se desvanece a confiança nas instituições, nos partidos e no regime, devia ter-se em atenção que não desapareceu a atracção de demasiados portugueses por formas autoritárias ou personalizadas de governação populista.

E se precisamos de ver restaurada a confiança nos agentes partidários, nas instituições democráticas e no sistema eleitoral, não podemos deixar de registar a falta de vontade e a ausência de forças sociais e políticas capazes de levarem para a frente uma nova visão reformadora, liberta das teias e das cumplicidades perversas em que o regime se deixou enredar. Um regime feito para, em liberdade, servir o povo.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(Artigo publicado na edição de 24 de maio de 2018)