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Cultura

Performance coreográfica e artes plásticas têm encontro marcado em Leiria

Nos últimos dez meses, a galeria da livraria Arquivo foi o laboratório de Inesa Markava: uma vez por mês, em Leiria misturou-se dança e artes plásticas. São as visitas dançadas.

Texto: Manuel Leiria Fotografias: Gil Álvaro de Lemos

É possível misturar dança e artes plásticas? Para um leigo, parecem artes de diluição difícil, como a água está para o azeite. Desde os anos 70 do século passado, contudo, que se estudam as potencialidades da coreografia em espaços como galerias e museus. Em Leiria, o exercício ganhou forma nos últimos meses na livraria Arquivo, com Inesa Markava.

“Há muitas coisas que não estão resolvidas, como a questão da luz, da acústica ou da participação das pessoas que entram e passam”, explica a bailarina bielorrussa, há vários anos a morar em Leiria. As variáveis que o habitat de uma exposição propicia são terreno fértil para a experimentação que Inesa tem desenvolvido na pequena galeria da livraria.

A “alquímica” junção da dança com as artes plásticas seduzia-a há muito. Conheceu “Dancing around the bride”, do compositor John Cage, do coreógrafo Merce Cunningham e do artista visual Jasper Johns, a partir de “Bride”, um quadro de Marcel Duchamp, de 1912.

Também descobriu as visitas de Leonor Barata, no Museu Grão Vasco, em Viseu. Até que pensou: “Vamos experimentar uma vez!”. Assim surgiu a primeira visita dançada na livraria Arquivo. “Felizmente estamos na nona edição”. A décima realizou-se após esta entrevista.

A cada exposição que a Arquivo apresenta mensalmente, antes da visita dançada, Inesa Markava estuda as obras a vários níveis. “Tento sentir o que transmitem, que música consigo imaginar com este quadro, que cores, que materiais…”. Depois cria uma performance, desafiando ainda o público infanto-juvenil a participar numa oficina de artes plásticas no final, com materiais relacionados com o trabalho dos artistas.

“O melhor feedback é quando os meninos ficam meia hora, a explorar os objetos”. Os artistas também se impressionam. “Dizem-me: ‘Como é que percebeste que isto liga com isto’? Isso para mim é tão gratificante, porque afinal resulta”. E para o
público? “A dança é tão abstrata que as pessoas conseguem ver outras coisas, a partir da interpretação do movimento”.

Em junho, Nelson Melo assistiu à leitura que Inesa fez da sua exposição (uma parceria com Lara Portela). No final, o artista reconheceu a surpresa. “Aqui houve uma amplificação da proposta que estava ali feita. Cada peça é uma proposta de pensamento. Ela abriu um leque de pensamentos. Se se pudesse fazer mais vezes, seria fantástico. Se pudesse, faria sempre estas visitas nas minhas exposições”.

Mas nem tudo é fácil. Na primeira sessão não houve inscrições. “Pensei: não fazemos. Mas avançámos com uma performance,
para depois vermos se as pessoas têm curiosidade”. Valeu a pena: a visitas têm despertado atenções do público mais sensível.

Em agosto param, regressando em setembro. A relação entre a dança e as artes plásticas está a ser encarada por Inesa Markava seriamente. Há um ano que é doutoranda em arte contemporânea na Universidade de Coimbra – Colégio das Artes.

O tema é precisamente a dança contemporânea como mediador entre a exposição e o visitante. “Espero descobrir o caminho de como a dança ajuda a interpretar e a trazer mais público para as galerias de arte”. Até lá, a livraria Arquivo é o seu laboratório, aberto ao público de Leiria.

Domingo, 16 de julho, há uma visita dançada especial à exposição “Pa.Pele”, de Sandrine Vieira. Às 16 horas, na livraria Arquivo

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