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António Costa planta sobreiro no pinhal do Estado e autarcas reclamam apoios a privados (vídeo)

Na terra, com tons de cinza que não deixam esquecer o grande fogo de outubro, também eles plantaram sobreiros.

Quando chegou a Vieira de Leiria, no talhão nove do Pinhal de Leiria, o primeiro-ministro António Costa plantou um sobreiro. Sim, um sobreiro. O Ministro da Agricultura, Capoulas Santos e secretários de Estado e mesmo a presidente da Câmara da Marinha Grande, Cidália Ferreira, seguiram-lhe o exemplo.

Na terra, com tons de cinza que não deixam esquecer o grande fogo de outubro, também eles plantaram sobreiros. Foi na última segunda-feira, dia 22.

Costa haveria de explicar o simbolismo dessa plantação momentos mais tarde, no auditório da Resinagem, na cerimónia em que foi apresentada a Estratégia de Recuperação do Pinhal do Rei que, confirmara dias antes a PJ, foi vítima de dois incêndios a 15 de outubro que tiveram mão criminosa. “Não quer dizer que o pinhal não vá ser pinhal.

O pinhal vai ser pinhal e só é pinhal se tiver pinheiro. Mas, para nós termos um bom pinhal e um bom pinheiro que seja, também ele, resistente ao fogo, é preciso que este pinhal não seja só de pinheiro e tenha a boa composição e o bom ordenamento que ajude à sua resistência”, adiantou o primeiro-ministro.

Afinal, explicou, em Vieira de Leiria, uma faixa de sobreiros resistiu ao fogo. É a “prova da resistência que o sobreiro tem, completamente diferente da que tem o pinheiro bravo ou o eucalipto perante as chamas”. Apostar na diversidade de espécies é a nova aposta. Quer isto dizer que o pinhal continuará a ter pinheiros, mas não só.

“Não quer dizer que o pinhal não vá ser pinhal. O pinhal vai ser pinhal e só é pinhal se tiver pinheiro. Mas, para nós termos um bom pinhal e um bom pinheiro que seja, também ele, resistente ao fogo, é preciso que este pinhal não seja só de pinheiro e tenha a boa composição e o bom ordenamento que ajude à sua resistência”

A estratégia apresentada na Marinha Grande, sublinha a importância da diversidade. Mas não escapou às críticas de quem entende que o Estado está concentrado na reflorestação pública e esquece a multiplicidade de problemas dos privados.

A estratégia incidia especialmente no pinhal de Leiria, estatal, e que na Marinha Grande é muitas vezes apelidado do “rei”. Mas a verdade é que o incêndio que, a 15 de outubro, consumiu aquela mancha florestal, começou a sul, em Alcobaça e também atingiu os concelhos de Leiria e Pombal. E aí, há muitas manchas verdes privadas que são agora cinzas.

Os autarcas que lideram os concelhos vizinhos não o confirmam, mas ao que o REGIÃO DE LEIRIA apurou, o convite para a sua presença na cerimónia só aconteceu na segunda-feira. Raul Castro, presidente da Câmara de Leiria, adianta que foram compromissos de agenda que impediram a sua presença.

Ainda assim, deixa uma prioridade: “a ação ponderada, sempre com o propósito claro de uma reflorestação eficaz e bem planeada”. Os presidentes Diogo Mateus (Pombal) e Paulo Inácio (Alcobaça), estiveram presentes.

No final da cerimónia, deram conta a António Costa da necessidade de olhar para a possibilidade de o regime fiscal contemplar benefícios para quem limpa a floresta: “parece ser mais interessante descontar [no IRS] as despesas com cão e gato do que com a limpeza da floresta”, afirma Diogo Mateus.

Paulo Inácio denuncia ainda que os proprietários sejam tributados pela venda da madeira ardida “que vale um quarto ou um quinto do que valeria” caso o fogo não tivesse ocorrido. Uma situação que considera “obscena”. O autarca adianta que ficou agendada uma reunião com o secretário de Estado das Florestas para debater estas matérias. “Faltam apoios para os produtores florestais, alguns são pequenos e dependem daquela atividade para sustentar a família”, acrescenta.

Para já, no terreno, avança o corte da madeira ardida que não vai faltar no mercado. O governo prepara-se para colocar 1,7 milhões de metros cúbicos de madeira das matas nacionais do litoral em hasta pública, saída de 24 mil hectares de floresta que ardeu (dos quais, 9.500 no Pinhal de Leiria). E isso acontecerá nos próximos seis meses.


A madeira é proveniente das sete “grandes matas nacionais do litoral”, revelou Rogério Rodrigues, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Deste total, mais de 600 mil metros cúbicos são provenientes da Mata de Leiria. Até junho, “todos os processos de hasta pública estarão culminados”, revelou ainda Rogério Rodrigues.

Para o trabalho de recuperação das áreas ardidas, o contributo de uma comissão científica agora criada – e que conta com várias instituições do ensino superior – é fulcral, uma vez que deverá elaborar um programa de recuperação das matas ainda este ano.

A sua implementação deverá demorar cerca de cinco anos, mas a visibilidade dos seus resultados surgirá ao ritmo de crescimento da floresta.

Aga Khan oferece 100 mil euros ao Pinhal

O donativo foi anunciado em Lisboa em novembro de 2017 pelo Príncipe Amyn Aga Khan e  concretizou-se na última segunda-feira em Vieira de Leiria: a Fundação Aga Khan doou 100 mil euros para a reflorestação do Pinhal de Leiria. A entrega simbólica do donativo aconteceu durante a visita do primeiro-ministro.

Um cheque gigante, no valor de 100 mil euros, selou a oferta.

A história deste povo, de todos os nossos antepassados, está indelevelmente ligada a este recanto do nosso país, que deu os mastros às nossas naus a haver, para que Portugal descobrisse o mundo”

O donativo foi entregue por Nazim Ahmad, da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento e é canalizado para o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF)

Carlos S. Almeida
Jornalista
carlos.almeida@regiaodeleiria.pt

Joaquim Dâmaso
Fotojornalista
joaquim.damaso@regiaodeleiria.pt

Nos incêndios do dia 15 de outubro (…) as matas do litoral no total perfizeram uma área [ardida] superior a 24 mil hectares. Passado o momento trágico, tivemos de ter a definição de uma estratégia de intervenção para as matas do litoral”.

 

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