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Sociedade

Pedrógão Grande: Ex-comandante distrital de Leiria diz que não se aprendeu com o fogo

Sérgio Gomes disse na Comissão de Inquérito que programa “Aldeias Seguras, Pessoas Seguras” foi das “poucas coisas boas que se fizeram” em três anos.

Incêncio em Pedrógão Grande

O ex-comandante distrital de Leiria, Sérgio Gomes, disse esta terça-feira na Comissão de Inquérito na Assembleia da República que “não se aprendeu nada” com o incêndio de Pedrógão Grande, em 17 de junho de 2017.

“Hoje estamos pior do que estávamos em 2017. Portugal não está melhor preparado e isso pode-se aferir pelo incêndio de Proença-a-Nova ainda há relativamente pouco tempo, onde arderam 17 mil hectares”, disse Sérgio Gomes, na comissão Eventual de Inquérito Parlamentar à atuação do Estado na atribuição de apoios na sequência dos incêndios de 2017 na zona do Pinhal Interior.

Abordando o incêndio naquele concelho do distrito de Castelo Branco, Sérgio Gomes constatou que, “muitas vezes, os fogos não se combatem”.

“Defendem-se populações e quando estamos a defender uma população não estamos a combater, estamos a desviar o fogo da povoação. Depois somos confrontados com áreas ardidas enormíssimas e não temos meios para parar esses incêndios”, sublinhou.

Chamado à comissão pelo grupo parlamentar do PCP, o ex-comandante afirmou que nada sabe sobre os apoios concedidos pelo Estado, mas acabou por responder a perguntas sobre o incêndio de Pedrógão Grande.

“Há uma resolução da Assembleia da República, a 51/2014, que fala naquilo que era necessário na floresta e, daquilo que podemos observar, neste momento, pouco ou nada foi feito até 2017”, começou por referir em resposta ao deputado do PCP João Dias.

Sérgio Gomes salientou que, “se este documento tivesse sido considerado, possivelmente ter-se-iam evitado muitas das vítimas e a catástrofe teria tido outra dimensão”, pois já abordava aquilo que hoje se conhece pelo programa “Aldeias Seguras, Pessoas Seguras”.

“Por que é que houve as 64 mortes [Pedrógão Grande]? Porque muitas das pessoas saíram das suas casas. Esse tal programa foi das poucas coisas boas que se fizeram nestes três anos, pois explicou-se às pessoas o que podem fazer em situação de catástrofe. Ter-se-ia evitado as mortes de muitas pessoas se tivessem ficado em casa e isso já estava vertido no documento de 2014“, insistiu.

O ex-comandante considerou que, desde 2017, no que se refere ao combate de incêndios florestais, “o que se fez é muito redutor”.

“Não aprendemos com os erros. Não evoluímos na questão do combate. Aqueles que são os maiores atores no combate aos incêndios florestais, que são os bombeiros voluntários, são uma não aposta. Cada vez mais se vai apoiando menos, o que faz com que abandonem os quartéis”, perdendo-se “gente com experiência”.

Sérgio Gomes defendeu ainda que se criem comissões, “não apenas quando há mortes”, mas que sejam usadas “para as evitar”.

Por exemplo, “seria importante perceber o que se passou no incêndio de Proença”.

O ex-comandante defendeu uma aposta na gestão da floresta e na elaboração de cartografia de risco, assim como no cadastro florestal.

O incêndio, que deflagrou em 17 de junho de 2017, em Escalos Fundeiros, no concelho de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e que alastrou depois a concelhos vizinhos, provocou 66 mortos e 253 feridos, sete deles com gravidade, tendo destruído cerca de 500 casas, 261 das quais habitações permanentes, e 50 empresas.

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