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Cultura

António Cova: “‘O crime do Padre Mamado’ surge como um vómito, uma indisposição”

O artista de Leiria assume novamente as funções de realizador, numa adaptação provocatória do clássico de Eça de Queirós. O filme estreia hoje, 22 de outubro, integrado na programação do festival Acaso.

O coletivo Fulo HD estreia esta sexta-feira à noite no Teatro Miguel Franco o filme “O crime do Padre Mamado”. O realizador António Cova explica a origem e objetivo da nova produção.

O que está na origem desta nova produção da Fulo HD?
Para ser muito sincero, foi já não suportar a ridícula importância e enaltecimento que se tem dado ao romance do Eça (contra o qual não tenho nada, antes pelo contrário) de “O crime do Padre Amaro”. “O crime do Padre Mamado” surge assim como um vómito, uma indisposição, uma sátira ao modo da Fulo HD.

Como adaptaram a obra?
A verdade é que foi numa noite de breu que o trocadilho nasceu. Rimo-nos muito e decidimos fazer. Marcámos data para a estreia e depois começámos a trabalhar. O argumento foi escrito tendo em conta os nomes das personagens do romance original e algumas das ligações entre elas. Periodicamente reuníamos e aconteciam mutações ao argumento original. O resto foi acontecendo. No fim deu a bosta que deu.

Como foi filmar em pandemia?
Efectuámos periodicamente testes, com incidência numa das personagens. O vilão mereceu.

Foi necessário cortar o trânsito a alguma rua para as filmagens?
Não foi necessário, filmámos sempre fora do centro de Leiria. A caminho das filmagens passou-nos pela cabeça utilizar os locais modificados nos quais estava a ser filmada a série do “Crime do Padre Amaro”, a estrear na RTP. Mas não, não quisemos perder o tempo que já era pouco.

Qual o clímax desta versão?
A reciclagem de preservativos, numa época em que os mesmos eram escassos ou praticamente impossíveis de adquirir. O filme gira em torno deste dilema, da procura e da venda de preservativos usados, já que novos praticamente não existem ou são vendidos a preços exorbitantes. Padre Mamado vive esse grande drama, solidarizando-se com o papel de “mula” de Amélia nesse tráfico.

Há uma moral nesta história?
Não tem moral, é completamente amoral. Não tem princípios nem qualquer obrigação moral. Agora pode ter uma qualquer mensagem subjacente. Ainda estou a tentar compreendê-la, embora já tenha uma ideia.

Que reacção esperam do público?
Uma incógnita, não sei. Tudo pode acontecer.

Que caminho seguirá o filme?
Bem… Temos já a garantia que iremos passar no festival de cinema indie de Barnabéu em Dezembro, Bernindie 2021. Temos também o interesse do Cinecanary Meating, nas Canárias em passar o nosso filme. Depois em 2022 decidiremos se aceitamos ou não o convite que a Netflix e a HBO irão com certeza propor para lançarmos o filme numa versão série. Logo se verá se estamos para aí virados, depende dos valores.

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