Assinar
SOS Ucrânia

Famílias de Peniche mantêm os braços abertos para as “crianças de Chernobyl”

As famílias de Peniche que, durante anos, receberam crianças atingidas pelo desastre nuclear de Chernobyl, estabelecem contactos para as voltar a acolher.

Famílias de Peniche e crianças de Chernobyl fotografadas no Cabo Carvoeiro
Arquivo

As famílias de Peniche que, durante vários anos, receberam crianças atingidas pelo desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, continuam de braços abertos para as acolher. E se no passado a região foi para essas crianças e jovens uma estância de férias, hoje seria o refúgio para escapar a uma guerra que não esperavam.

Hernâni Leitão e Maria João são um dos casais que integraram o projeto “Verão Azul”, então desenvolvido pela Associação de Colaboradores da Liberty Seguros. O objetivo era proporcionar às crianças de Ivankiv, uma cidade a 50 quilómetros de Chernobyl, um período de férias em Portugal. Sol, praia, boa alimentação e carinho eram os ingredientes que ajudavam a combater os efeitos nefastos da radioatividade, mas também a pobreza em que viviam, conforme revelou o REGIÃO DE LEIRIA numa reportagem publicada em agosto de 2016.

Durante vários anos, Ania Kot passou férias em Peniche e a ligação ao casal português nunca se perdeu. Hernâni refere que durante a semana passada o contacto foi diário, mas desde que as tropas russas invadiram o país e Ania se viu obrigada a refugiar-se no metropolitano, foram breves os contactos. “Por mensagens muito curtas, ela informa que não pode falar, tudo está a ser controlado, é muito difícil qualquer tipo de contacto”, diz Hernâni.

Hernâni Leitão e Maria João Leitão com Ania, em Peniche

Até ao momento em que conseguiram falar com Ania, esta não tinha manifestado intenção de vir para Portugal. Atualmente com 22 anos, trabalha numa cidade a 40 km de Kiev, mas é na capital ucraniana que tem o companheiro. No entanto, “se a Ania quisesse vir para Portugal, a casa está sempre aberta para ela e ela sabe, assim como as outras crianças, se quiserem refugiar-se em casa das pessoas que as receberam, claro que as pessoas as recebem de braços abertos”.

Susana Roquete confirma essa vontade. Começou a receber Mark na sua casa, em Peniche, quando este tinha 10 anos. Acolheu-o por sete vezes e recebê-lo-ia novamente de braços abertos se isso lhe fosse permitido. Tanto ela como as filhas têm desencadeado contactos e feito esforços no sentido de encontrar forma de o trazer para Portugal. Foi o próprio Mark que manifestou esse desejo. “Há uma semana, quando as coisas começaram a ficar mais difíceis, ele falou connosco porque queria vir-se embora”, conta Susana. “Como é que podes vir buscar”, perguntou Mark nessa ocasião. Mas a família portuguesa vê-se impotente perante a vigência da Lei Marcial que impossibilita os ucranianos de deixarem o país.

Assim que tomou conhecimento dos bombardeamentos, Susana entrou de imediato em contacto com a família de Mark, hoje com 16 anos. Acabou por saber que ele se encontrava hospitalizado por se ter magoado a rachar lenha. “Há males que vêm por bem, quem sabe se ele não estivesse no hospital se não estaria já no meio da guerra”, interroga-se Susana que diz ter ouvido nas notícias que jovens da idade dele já estão a ser chamados a combater.

As famílias de Peniche estão preocupadas com as suas “crianças” ucranianas. Apesar de já ter terminado, o programa “Verão Azul”, as ligações que deixou são fortes e nunca se desvaneceram.

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos relacionados

Subscreva!

Newsletters RL

Saber mais

Ao subscrever está a indicar que leu e compreendeu a nossa Política de Privacidade e Termos de uso.

Artigos de opinião relacionados