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A propósito: a MAR LER

O que incita a maior parte das pessoas a um prazeroso banho no mar, não será tanto a sua imensidão, a sua beleza, as vibrantes ondas, mas o que estas possam provocar em nós, enquanto emoção.

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Leonor Lourenço, professora bibliotecária leonorplourenco@gmail.com

O que incita a maior parte das pessoas a um prazeroso banho no mar, não será tanto a sua imensidão, a sua beleza, as vibrantes ondas, mas o que estas possam provocar em nós, enquanto emoção.

Poderemos ter uma diversificada biblioteca, mas se ainda não sentimos algo vibrante em nós, enquanto um livro não nos sussurrar e não sentirmos vontade de navegar nele, nada feito.

Detenho-me a pensar sobre o ato de ler, em autores que abordam esta questão e apontam estratégias de incentivo à leitura. Lem­bro-me, como exemplo, de Daniel Pennac e o seu texto “direitos do leitor”. E recuo no tempo, procurando a minha epifania. Não me restam muitas dúvidas: não foi a vasta biblioteca de meus pais, nem as prendas de livros no Natal, nem as recomendações de adultos que me motivaram? O momento crucial foi quando descobri a existência de uma carrinha que ia até à aldeia onde vivia. E sim, podia escolher um livro, havia pessoas prontas para, especificamente me escutarem e apoiar na seleção deste. Foi um deslumbre! Ainda recordo o sorriso de quem me atendia, da minha timidez de insegura leitora, do soalho da carrinha, do cheiro…

Hoje, revejo-me naquelas pessoas que, de sorriso nos lábios, me entregavam um livro que teria de ler, e cuidar. E, dentro de uma carrinha, com um livro nas mãos e o mar algarvio como cenário, a analogia fez todo o sentido.

(texto publicado na edição de 29 de agosto de 2013)