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A propósito: Não vou esquecer…

Levantou-se e, ao lado do despertador, viu a mensagem escrita por si: “Via verde”.

Leonor Lourenço, professora bibliotecárialeonorplourenco@gmail.com
Leonor Lourenço, professora bibliotecária leonorplourenco@gmail.com

Levantou-se e, ao lado do despertador, viu a mensagem escrita por si: “Via verde”.

“Ah, não vou esquecer! Não posso esquecer que não vou no meu carro. Não posso esquecer que desta vez não posso. Não posso ir pela via verde! Está tudo controlado!”

Passada meia hora o telefone toca. Era o lembrete a recomendar o mesmo cuidado: não ir pela via verde.

Sabia o quão despistado era e estava decidido a não cometer uma loucura por distração. Sim, que as multas pesam e ele não andava muito folgado de finanças. Tratou dos filhos, sempre com o mesmo pensamento a acompanhá-lo. “Meninos, não nos podemos esquecer…” “Sim pai, já sabemos: não podes ir pela via verde”. Caminhou para o carro com os filhos, em direção a Leiria, onde iria rever elementos da família, num daqueles encontros que tão bem fazem à alma.

Sempre cuidadoso e atento, colocados os filhos nas cadeirinhas, lá seguiu radiante e bem-disposto, como era seu costume. Não foi pela via verde!

“Yes! Não esqueci…”

Os filhos sorriem. A viagem foi tranquila e brevemente estaria entre os seus.

Leiria estava próxima. Guiava e cantarolava ao som dos Xutos, “A minha casinha”. Estava feliz com o seu feito!

De repente, um som ensurdecedor: “Oh pai! Oh pai…”

Não, não tinha esquecido a primeira lição. Apenas falhou na segunda: pagar a portagem!

(texto publicado na edição de 18 de setembro de 2014)