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A propósito: Ainda hoje me dói…

À educadora custou-lhe a aceitar o que ouvira da mãe da Joana: andava angustiada, porque a filha se recusava a ir ao jardim-de-infância.

Leonor-lourencoÀ educadora custou-lhe a aceitar o que ouvira da mãe da Joana: andava angustiada, porque a filha se recusava a ir ao jardim-de-infância. As razões, chegara à conclusão de que os colegas não gostavam dela. Muito surpreendida ficou a docente, sobretudo por saber o quanto essa criança era estimada por todos. Comprometeu-se a descobrir a “realidade” dos factos. Num momento em que a menina se foi aninhar no regaço da educadora e acariciava seus cabelos, esta calmamente pergunta-lhe se confia em si e depois da confirmação, olha-a nos olhos “então dizes-me a verdade, porque não queres vir ao jardim?!”. A resposta foi absolutamente inesperada “porque o meu pai bate na minha mãe e eu quero estar ao pé dela”.

Após esta acutilante resposta, a educadora dirigiu-se com a maior delicadeza que lhe foi possível e expõe a situação à mãe. Era a realidade. O marido bebia demais razão pela qual viria a falecer. Soube que a mãe refez a sua vida com outra pessoa. Anos mais tarde, vejo a Joana num restaurante com a família exceto a mãe. Associei ao facto desta ter um emprego com horário oscilante. Achei-a pouco recetiva…Estranhei!

No dia a seguir vejo o rosto da mãe na necrologia e caio na cadeira onde permaneço um tempo tão longo quanto a minha tristeza.

(texto publicado na edição de 1 de agosto de 2013)