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Opinião: A cultura que podemos esperar

Dei-me bem com todos os líderes políticos da cultura nos últimos 38 anos. Alguns não eram exímios na função e nem por isso tiveram muitas queixas.

Henrique Pinto, presidente do Orfeão de Leiria/Conservatório de Artes

Dei-me bem com todos os líderes políticos da cultura nos últimos 38 anos. Alguns não eram exímios na função e nem por isso tiveram muitas queixas.

O secretário de Estado da cultura (SEC), Francisco José Viegas, como outros membros do Governo, é um homem culto, interessantíssimo, e não é um liberal. No entanto a sua área nunca correu tantos riscos como hoje. Falo de cultura como o fenómeno civilizacional e de património, material e imaterial, em curso ou alimentado na tradição, que enriquece intelectualmente os cidadãos e eleva o espírito dos tempos. Nesse sentido, não são os vetores eminentemente culturais a determiná-la em absoluto. Investir num tal gradiente de elevação espiritual das comunidades nunca foi o exclusivo dos cidadãos individuais, entregues a si próprios, nem de mecenas privados ou públicos isolados, desde a alta idade média. Mas é esse o dogma do neoliberalismo vigente. Daí advém a crise sem aparente saída da cultura e da educação.

Quase todos os Estados do mundo têm companhias artísticas nacionais, e sustentam-nas. Faz sentido que o SEC apoie as suas orquestras regionais, mesmo se paga mais aos maiores devedores e menos aos que se superam em trabalho.

Todavia, falhando a escola como tem sucedido, o corte a esmo nos contratos com o associativismo (veículo cultural reconhecido), as autarquias perdendo a oportunidade decisiva de ganharem o sector, por endividadas, quando grassa a iliteracia, o desemprego e o pauperismo, que cultura esperar?

(texto publicado na edição em papel de 16 de março de 2012)