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Palavras sem amarras: Desencontro à beira do Lis

Quantos vaguearam e vagueiam por este lugar privilegiado para namorar? Quantos amores correspondidos e quantos por corresponder? Quantos encontros e quantos desencontros como este?

Graca-pocas-santos
Graça Poças Santos, professora graca.santos@ipleiria.pt

Alguém que não leva a vida a correr e, sobretudo, que é bem mais atento do que eu, encontrou este sofrido poema de amor sobre um encontro combinado, mas aparentemente não concretizado, que há muitos anos está gravado na pedra de um dos muros de suporte que ladeiam o rio Lis na nossa cidade:

“Aqui vagueio solitário, Conceição
na esperança de te encontrar e ser feliz.
Prometeste que vinhas, certa ocasião,
ter comigo aqui junto ao rio Lis.
Tu não vens, não sei por que razão!
Tu não sabes o que isso faz doer.
A pouco e pouco matas o meu coração
na ânsia de te amar e de te ver.”

Essa amada Conceição está identificada pelo resto do nome e pelo lugar (onde vivia?), que aqui não reproduzimos por razões óbvias.

Quantos vaguearam e vagueiam por este lugar privilegiado para namorar? Quantos amores correspondidos e quantos por corresponder? Quantos encontros e quantos desencontros como este?

Desafio hoje algum leitor mais romântico, que queira verificar por si esta velha inscrição, a percorrer calmamente e sem pressas (não dá para ser no Brisas do Lis Night Run, não só por ser de noite, mas porque é muito acelerado para o efeito…) e a tentar encontrar esta curiosidade escondida.

(texto publicado na edição de 29 de maio de 2014)