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Play it, Sam: A injustiça de 1999

Em 1998 “Titanic” recebeu 12 Óscares, graças ao apelo trágico do tema e à espetacularidade dos seus efeitos especiais, apesar de uma concorrência de luxo constituída por “LA Confidential”, “Melhor é Impossível” e “Bom Rebelde”.

João M. Alvim, advogado jmalvim@gmail.com

Em 1998 “Titanic” recebeu 12 Óscares, graças ao apelo trágico do tema e à espetacularidade dos seus efeitos especiais, apesar de uma concorrência de luxo constituída por “LA Confidential”, “Melhor é Impossível” e “Bom Rebelde”.

Mas em 1999 não houve ponta por onde se lhe pegasse. Dum trio de filmes fenomenais que ficariam para a História do Cinema, nenhum ganhou o galardão principal: “A Vida é Bela”, o belíssimo filme de Roberto Benigni, uma fábula moderna sobre o amor em tempos de guerra, contado com um invulgar equilíbrio entre humor e drama; “O Resgate do Soldado Ryan”, de Spielberg, com brutais cenas de batalha, um filme soberbo que vai muito além do argumento mediano e a “Barreira Invisível”, de Terrence Malick, talvez um dos melhores filmes de guerra de sempre, em que o centro da ação gravita de personagem em personagem, através dos seus pensamentos e emoções perante a barbaridade do conflito. Depois ainda havia “Elizabeth”, um exercício esotérico sobre poder, de Shekhar Kapur e a “Paixão de Shakespeare”, de John Madden, uma simpática e despretensiosa comédia. O problema é que foi este o filme que ganhou sete Óscares entre os quais o de Melhor Filme. Spielberg recebeu o de Melhor Realizador e Benigni os de Melhor Ator e Melhor Filme em Língua Estrangeira.

O incompreensível, em 1999, voltou a atacar nos Óscares (anos antes tinha sido Pulp Fiction a vítima), premiando-se, atendendo à “concorrência”, um filme inócuo, incapaz de se tornar uma referência. Os Óscares valem o que valem, é certo, premiando muitas vezes o gosto mais popular em vez da qualidade cinematográfica. Mas em 1999 foi-se longe de mais. É que mesmo que se sorria perante a versão romanceada da vida de Shakespeare, o murro no estômago de Benigni ou a fragilidade humana de Malick mereciam melhor sorte…

(texto publicado na edição em papel de 13 de julho de 2012)