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Andebol

Euromilhões é ter cadeiras novas e chegar aos Jogos Paralímpicos

As cadeiras têm que ser adaptadas ao atleta e à modalidade para cumprir a sua missão. Para andebol ultrapassam os três mil euros e representam a fatia mais pesada no orçamento

A atividade desportiva acom­panha-os há muito. A vida que imaginaram em pequenos deu voltas e obri­gou-os a crescer mais rapidamente do que pensavam. Hoje lutam por pequenas conquistas que se podem traduzir em grandes vitórias na sua vida pessoal e profissional.

João Jerónimo, de Leiria, tinha 15 anos quando sofreu um acidente que lhe amputou uma perna. Jogava andebol no Atlético Clube Sismaria e teve que reorganizar a sua vida. Passou pela natação e atletismo, mas o bichinho do andebol continuava lá.

Este ano desafiou a equipa do núcleo de Leiria da Associação Portuguesa de Deficientes (APD-Leiria), conhecida por jogar basquetebol em cadeira de rodas, a experimentar o andebol também em cadeira de rodas. Dia 27, participam na primeira competição oficial e querem ganhar. “A APD-Leiria é conhecida por ‘prova em que participa, entra para ganhar’ e vamos lutar por isso”, afirma.

Satisfeito com a visibilidade que a modalidade começa a ter, João Jerónimo lamenta contudo a falta de apoios. “A Federação tem ajudado. Não pagamos as inscrições, nem os atestados médicos, mas não conseguimos adquirir cadeiras. Uma mais ou menos razoável, que é diferente da que usamos no dia a dia para nos deslocarmos, custa 3.200 euros”, diz.

Fotos: Joaquim Dâmaso

Na equipa existem cerca de uma dezena de cadeiras de rodas. Estão todas “coladas” com remendos e ajustes, apesar de pedirem a reforma há já algum tempo. O “artista”, regra geral, é Manuel Mendes. Tem 60 anos e é o jogador mais velho de basquetebol em cadeira de rodas no ativo em Portugal. Dá um jeito aqui, outro acolá, e transforma uma cadeira empenhada num “último modelo”.

Manuel Mendes sabe o que custa andar nisto das competições. “Levamos a comida de casa para poupar. As deslocações são muito caras e as cadeiras estão velhas. Gostávamos de ter alguma ajuda”, considera, criticando a falta de incentivos das entidades oficiais.

Prestes a começar o primeiro campeonato nacional de andebol em cadeira de rodas, algo que deverá acontecer em outubro, a APD-Leiria procura todo o tipo de apoios. “Tudo o que vier, aceitamos”. O Euromilhões é o prémio ideal? “Não queremos o Euromilhões. Mas se saíssem 10 cadeiras novas, ficávamos mais contentes e era um avanço muito importante para o andebol e o basquetebol em cadeira de rodas”, saliente João Jerónimo.

Mais do que renovar os principais meios de mobilidade, a APD-Leiria entende que se tiver uma maior oferta de cadeiras, pode também “integrar novas pessoas”. “O desporto foi feito para toda a gente e mostrar a quem está em casa, que pode sair e vir ter connosco”, lança o desafio.

A braços com as dificuldades em juntar apoios para competir está também André Venda. Natural de Porto de Mós, era atleta federado de downhill, modalidade que abandonou após um acidente de viação, a caminho do trabalho, que o deixou paraplégico. Conheceu o handcycling durante o processo de reabilitação na Tocha e agora procura qualificar-se para os Jogos Paralímpicos 2016, no Rio de janeiro.

André Venda

No entanto, a falta de apoios pode condicionar a sua participação. “O meu grande objetivo é mesmo ir aos Jogos Paralímpicos, sonho de qualquer atleta. Tenho pela frente um trabalho árduo, choro e de sofrimento mas acredito que valera a pena todo o esforço”, explica. A próxima prova será em França, mas André só irá “se conseguir o apoio necessário para cobrir todas as despesas”, ou seja, qualquer coisa como passagem de avião para si, para o treinador, mecânico e fisioterapeuta, alojamento e despesas normais da viagem, além dos custos extra para levar a bicicleta no avião, bagagem de material suplente e de desgaste. Já uma bicicleta nova de competição pode atingir os dez mil euros.

Em Portugal, a modalidade ainda é pouco conhecida, o que torna mais complicado encontrar ajudas para a prática, mas André acredita que pode garantir o bilhete para o Brasil. “Neste momento, estou a dedicar a 100% ao handcycling, porque sei que tenho potencial para chegar lá [Jogos Paralímpicos] e é nisso que penso em cada treino que faço”, adianta.

Quer a APD-Leiria, quer André acreditam que têm tudo para triunfar desportivamente e, dizem, não vão desistir à primeira. Mesmo que isso implique ir até ao fim do mundo atrás do sonho: alcançar aquela vitória.

Marina Guerra (texto)
marina.guerra@regiaodeleiria.pt
Joaquim Dâmaso (fotografias APD-Leiria)
joaquim.damaso@regiaodeleiria.pt 

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