“As descargas ilegais persistem e têm vindo a agravar-se nos últimos meses” e “para um Município muito afetado com este grave problema ambiental e empenhado numa solução sustentável para o ambiente da região”, o presidente da Câmara da Batalha pede explicações.
O anúncio feito, esta manhã, pelo ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, sobre o não avanço da construção da Estação de Tratamentos de Efluentes Suinícolas (ETES), em Leiria, levou Paulo Batista Santos, a questionar o governante sobre o projeto.
Para o autarca da Batalha, lê-se no ofício enviado, o Município defende há vários anos a construção da infraestutura por considerar que “é um projeto de relevante interesse público e essencial ao plano de despoluição da bacia hidrográfica do Lis, bem como de regularização do setor pecuário da região e com impacto direto, entre outros, nos municípios de Leiria, Pombal, Ourém, Batalha, Marinha Grande e Porto de Mós”, já que a atividade pecuária “está fortemente presente na região”, “representa uma atividade económica relevante e que exerce elevada pressão ambiental”.
Paulo Batista Santos recorda ainda que, em junho de 2019, a AdP Energias, S. A. foi designada para “realizar os estudos técnicos e económico-financeiros”, no valor de um milhão de euros, “designadamente a preparação de uma proposta de contrato de concessão, necessários à criação de um novo serviço público destinado ao tratamento e à valorização dos efluentes agropecuários e agroindustriais”.
“Quais foram os resultados do estudo realizado pela AdP Energias'” e “Qual a alternativa viável do Governo para o tratamento dos efluentes suinícolas e de despoluição da bacia hidrográfica do Lis?”, pergunta o presidente da Câmara da Batalha, na carta enviada ao ministro.
O estudo, divulgou, esta manhã, João Pedro Matos Fernandes, em declarações aos jornalistas, deverá ser apresentado em fevereiro, e explicou uma das soluções previstas.
Melhor eficácia na fiscalização
“Exige-se maior rapidez, clareza e transparência na apresentação de medidas concretas de modo a que se possa definir um calendário de ação para a resolução definitiva dos problemas ambientais resultantes dos efluentes suinícolas”, entende Gonçalo Lopes, presidente da Câmara Municipal de Leiria.
As declarações do Ministro do Ambiente foram recebidas “com surpresa e preocupação” pelo autarca.
O também presidente da Comunidade Intermunicipal realça “ainda que a solução, pelo lado da fiscalização, não resultou nas últimas décadas e que a capacidade de tratamentos de efluentes instalada também não foi solução”.
“Devem ser encontrados mecanismos que melhorem a eficácia da fiscalização, de modo a penalizar os agentes poluidores, que mancham a imagem daqueles que no setor têm feito um esforço para cumprir com as regras”, afirma, aguardando pela apresentação da Águas de Portugal, de uma solução até fevereiro de 2021.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Recilis lamenta demora no processo
“Ao longo dos muitos anos que infelizmente leva este processo e das diversas alterações e de circunstância, os suinicultores e as organizações sempre desempenharam um papel de proatividade na busca de soluções e compromissos, assim com responderam sempre afirmativamente a todos os desafios”, diz David Neves, presidente da Recilis – Tratamento e Valorização de Efluentes S.A, convidado a comentar as declarações do ministro do Ambiente.
Para o responsável, quando foi apresentado, em 2018, um “Modelo de Intervenção Pública para o tratamento de efluentes agropecuários e agroindustriais”, este “mereceu acolhimento por parte dos operadores suinícolas e dos municípios presentes”, e foi definido um cronograma de ação que “deveria culminar, até 31 de dezembro de 2018, na criação de uma sociedade de capitais exclusivamente públicos, com responsabilidade na construção, financiamento, exploração e gestão de um Sistema Integrado de tratamento, em regime de serviço público no território nacional”. “Até à presente data não dispomos de qualquer informação relativa a este compromisso”, além da autorização à AdP para elaborar os estudos técnicos e económico-finaceiros, com vista a uma solução pública.
David Neves defende “um modelo, que assente na utilização da capacidade instalada, com o reforço da capacidade e melhoramento das condições de descarga, na ETAR Norte, na criação de uma base de dados de parcelas agrícolas disponíveis na região, que permitam valorização agrícola e a promoção do conceito de economia circular, num controlo efetivo dos efluentes produzidos e dos seus destinos”.
“Só assim me parece possível melhorar a qualidade das águas da bacia hidrográfica do rio Lis e das massas de água subterrâneas. Este modelo deve ser controlado por uma entidade pública ou privada, com a qual os operadores pecuários contratualizem e a quem pagam”, entende.
Sobre a poluição da bacia hidrográfica do rio Lis, reconhece que “o setor suinícola assume quota parte de responsabilidade”, e “infelizmente só será ultrapassada quando outros setores, públicos e privados assumirem também a sua responsabilidade”, conclui, aguardando também a apresentação dos resultados do estudo da AdP.
O projeto da ETES, um investimento total de 21 milhões de euros, era apoiado por um montante de 9,1 milhões de fundos nacionais e comunitários, apresentado pela Valoragudo, detida a 100% pela Recilis (empresa criada para ficar responsável com o tratamento e valorização dos efluentes na bacia hidrográfica do Lis). O plano foi aprovado em 2014.
Depois de avanços e recuos, em janeiro de 2019, a autoridade de gestão do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 disse que a Recilis “perdeu definitivamente o financiamento”.
O Governo chamou a si o processo e o modelo de tratamento dos efluentes suinícolas em Leiria para ser desenvolvido pela AdP Energias (grupo Águas de Portugal), num modelo de gestão pública extensível a todo o país.