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40 Perguntas & Respostas: Sabe tudo sobre máscaras, testes e sintomas?

Sabe o que distingue os vários tipos de máscaras e testes e como agir em caso de sintomas suspeitos de Covid-19? O médico Rui Passadouro esclarece muitas dúvidas

1. O que distingue as máscaras caseiras (feitas em casa) das máscaras têxteis?
A máscara têxtil certificada deve ter as recomendações do fabricante relativa à capacidade de filtração, resistência ao desgaste e número máximo de reutilizações, enquanto que com as máscaras caseiras não é possível conhecer essa informação.

2. O que são máscaras têxteis certificadas?
São máscaras que cumprem critérios de qualidade atestados por laboratórios de referência e que são do conhecimento da ASAE – Autoridade de Segurança Alimentar e Económica.

3. As máscaras sociais ou comunitárias não são eficazes?
O nível de filtração destas máscaras, quando certificadas, deve ser superior a 70%, enquanto as máscaras cirúrgicas devem ter um desempenho mínimo de filtração de 90%.

fotografia de uma mãe a colocar uma máscara cirúrgica no filho

4. As máscaras reutilizáveis podem ser tão eficazes quanto as máscaras cirúrgicas?
Sendo difícil, posso admitir que sim, mas isso deve estar descrito nas características da máscara. A reutilização diminui a sua eficiência, sendo essa uma das características que deve fazer parte da informação disponibilizada.

5. O que devo considerar ao comprar uma máscara?
Devemos ponderar as situações em que será usada. Só deveremos usar as máscaras de têxtil simples se tivermos um número de contactos muito baixo em saídas em contexto de confinamento. Caso haja contacto frequente com outras pessoas deveremos usar máscara têxtil com filtração superior a 90% ou máscara cirúrgica.
A marca de certificação deve constar na máscara e na sua embalagem.

6. Em que casos, em Portugal, é obrigatório usar máscaras cirúrgicas ou FFP2?
As máscaras FFP2 são máscaras de Nível 1 destinadas essencialmente a profissionais de saúde, sendo consideradas equipamento de proteção individual.

7. Usar duas máscaras ajuda a reduzir o risco de infeção?
Não conheço estudos que avaliem essa situação, mas o importante é que sejam usadas corretamente, cobrindo a boca e o nariz.

8. Quando pode fazer sentido usar duas máscaras?
Não faz sentido essa utilização. Será preferível usar máscaras certificadas, quer têxteis de filtração superior a 90% ou máscaras cirúrgicas ou FFP2.

Só deveremos usar as máscaras de artigo têxtil simples se tivermos um número de contactos muito baixo em saídas em contexto de confinamento. Caso haja contacto frequente com outras pessoas deveremos usar máscara têxtil com filtração superior a 90% ou máscara cirúrgica”

Rui Passadouro, delegado de saúde ACES Pinhal Litoral

9. A Direção-Geral da Saúde alterou a definição dos casos Covid-19. Que sintomas pode apresentar um doente para ser considerado caso possível?
Os sintomas previstos nas orientações da DGS são: tosse de novo ou agravamento do padrão habitual; febre (temperatura corporal ≥ 38,0ºC) sem outra causa atribuível; dificuldade respiratória sem outra causa atribuível; alteração do sabor de início súbito; alteração do cheiro de início súbito. Com base na experiência acumulada, posso afirmar que raramente a doença se manifesta com febre ou dificuldade respiratória e a maior parte das vezes simula um pequeno resfriado.

10. Os sintomas devem ser cumulativos ou basta apenas um para ser considerado caso suspeito?
Em presença de apenas um dos sintomas deveremos sempre pôr a hipótese de estar infetados.

11. O que distingue os sintomas de uma infeção pelo novo coronavírus dos da gripe?
Em bom rigor, as infeções pelo SARS-CoV-2 e pelo vírus da gripe têm uma sintomatologia sobreponível. São ambas infeções causadas por vírus transmitindo-se pessoa a pessoa sobretudo por via aérea. É difícil distingui-las apenas pelos sintomas, recorrendo-se, por isso, aos testes diagnóstico.

12. Quando é que me devo preocupar e contactar a linha SNS24?
É importante que uma pessoa infetada não contacte com outras, uma vez que a transmissão do vírus é fácil e rápida. Por isso, perante qualquer dos sintomas referidos, mesmo de pouca intensidade, deve pôr-se a hipótese de Covid e contactar a linha SNS24.

13. A partir de que valor a temperatura corporal de um adulto é considerada febre? E numa criança?
Consideramos febre uma temperatura de valor igual ou superior a 38ºC, e entre 37,5 e 38ºC temperatura subfebril.

14. Se tiver apenas febre, devo ligar para o SNS24 ou posso tomar um antipirético e aguardar que baixe?
A febre é um sintoma importante que nos deve obrigar a pensar em Covid, e como tal ligar para a linha SNS24. No entanto, se houver uma causa explicativa da febre, a suspeita pode ser afastada, mas sempre após contacto com a equipa do centro de saúde ou SNS24.

15. Se acordar de manhã com qualquer um destes sintomas, devo ficar em casa?
É um dever ético e cívico não transmitir a doença. Nessa linha de raciocínio, se colocamos a hipótese de ter Covid nunca deveremos ir ao local de trabalho ou contactar outras pessoas sem essa hipótese ser afastada.

16. Como justifico a minha ausência no trabalho ou na escola se tiver de ficar em casa?
As faltas por doença são sempre justificadas pelo médico de família, quer seja Covid ou não Covid. Por outro lado, os que contactaram com doentes Covid, por não estarem doentes, só podem justificar as faltas com uma declaração de isolamento profilático, emitido pela Autoridade de Saúde ou SNS2 (808 24 24 24).

17. Já contactei o SNS24. Tive indicação para ficar em casa até novo contacto por parte do médico de família, mas passaram já dois dias e não fui contactada/o. O que faço?
Os doentes Covid devem tentar contactar o médico de família por telefone ou email e evitar as deslocações para contactos presenciais, dado que sofrem de Covid, doença altamente transmissível. Os contactantes de doentes Covid, não doentes, são identificados pelo doente Covid, que informa a Autoridade de Saúde do nome e contacto das pessoas com quem esteve. Poderá esquecer alguém, e por isso é importante que aqueles que têm a perceção que são contactantes informem a pessoa que testou positivo de forma a que esta informe claramente a Autoridade de Saúde dos seus contactos. Caso esta opção não seja viável poderá contactar a Unidade de Saúde Pública por email ou telefone.

18. O que é a imunidade de grupo?
A imunidade de grupo é uma condição em que os vírus deixam de se poder transmitir de forma ativa na comunidade, por esta estar imune, o que aconteceu pela administração da vacina ou por ter tido a doença.
Nas doenças infecciosas que fazem parte do Plano Nacional de Vacinação atinge-se a imunidade de grupo quando 95% da população fica vacinada. Para a Covid-19, a imunidade de grupo estimada atinge-se com cerca de 70% da população imune, o que pode acontecer pela vacinação ou por ter contraído a doença.

19. Como se trata a Covid-19 em casa?
Não existe tratamento dirigido para a Covid-19 e os antibióticos, por não serem eficazes nos vírus, não trazem benefícios nesta doença. Em casa, o doente deve manter-se em autovigilância dos sintomas e, no caso de iniciar dificuldade respiratória ou de agravamento da febre e da tosse, contactar o SNS24 ou o médico de família. O tratamento é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam, nomeadamente a febre.

20. Qual a medicação e cuidados prescritos?
Os cuidados em casa passam pelo isolamento social, mantendo a distância de outras pessoas, e medidas de suporte. Se surgir febre recomenda-se o paracetamol.

21. Quais são os grupos da população mais afetados?
Os idosos – população com idades superiores a 70 anos -, doentes com patologia cardiovascular, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), asma, diabetes e doentes imunocomprometidos têm maior risco. As grávidas também devem ter especial cuidado para não se infetarem.

Nas doenças infecciosas que fazem parte do Plano Nacional de Vacinação atinge-se a imunidade de grupo quando 95% da população fica vacinada. Para a Covid-19, a imunidade de grupo estimada atinge-se com cerca de 70% da população imune, o que pode acontecer pela vacinação ou por ter contraído a doença.

22. O vírus afeta mais mulheres ou homens?
De momento, não existe evidência científica suficiente para afirmar maior suscetibilidade de mulheres ou homens, podendo eventuais diferenças observadas não serem diretamente relacionadas com o género.

23. Porque é que as crianças parecem ser menos afetadas?
A evidência parece mostrar que, de facto, nas crianças, a infeção é na generalidade menos agressiva. Os óbitos em crianças com menos de 10 são muito raros, identificando-se apenas um no nosso país. Mas, na verdade, não sabemos porquê. Neste momento, não há dados nem investigação suficientes para estabelecer teorias que não sejam especulativas.

24. Depois de infetadas e tratadas, as pessoas podem voltar a adoecer?
Mais uma vez ainda não sabemos, porque depende do comportamento do vírus a médio-longo prazo. Mais recentemente com o surgimento de novas variantes do vírus a possibilidade de voltar a adoecer é cada vez mais provável. Há infeções para as quais o organismo, depois do tratamento, fica imune. Noutras, o organismo fica parcialmente imune durante algum tempo, podendo ser reinfetado mais tarde (ou seja, a imunidade não dura para sempre). Noutras ainda, como no caso do herpes, o vírus fica latente, podendo reativar em alturas de maior stress para o organismo. Existem alguns relatos de casos de suposta reinfeção, mas não foi possível aferir ainda se se trata de uma reinfeção, reativação ou um falso negativo na análise de controlo.

25. É possível haver quem seja imune à doença?
De momento, não existe evidência científica que suporte adequadamente uma resposta a esta pergunta.

26. Em Portugal, a gripe sazonal ocorre principalmente no inverno, entre dezembro e fevereiro. Existe alguma relação entre as condições climatéricas e a propagação do novo coronavírus?
Diretamente, não temos dados ainda para perceber o efeito das condições climatéricas no comportamento do vírus no ambiente. Contudo, nas alturas de temperaturas mais frias, as pessoas têm tendência a concentrar-se em locais fechados e pouco arejados. E isso sim, sabemos que tem grande influência na propagação do vírus.

27. Quais são as principais diferenças entre a gripe e a Covid-19?
São ambas provocadas por um vírus de diferentes famílias, mas as pneumonias provocadas pelo SARS-CoV-2 tendem a ser mais graves. A transmissibilidade pessoa a pessoa da Covid-19 é muito superior à gripe.

28. A primavera é uma época propícia a alergias, com problemas respiratórios associados. Este fator pode contribuir para uma maior vulnerabilidade à doença ou inspirar maiores cuidados?
Não existe evidência que suporte o descrito.

29. Em que situações é determinada a realização de um teste de diagnóstico para o novo coronavírus?
Os testes laboratoriais para SARS-CoV-2 devem ser usados em diagnóstico e em rastreio. No diagnóstico em pessoas com sintomas de Covid-19, mas também em pessoas assintomáticas que tiveram contacto com caso confirmado de Covid-19. No rastreio, por indicação do delegado de saúde, para a identificação de infeção em pessoas sem sintomas e sem contacto com caso confirmado de Covid-19, no decurso de um surto.

30. O que distingue os vários tipos de testes?
Temos em Portugal três tipos de testes: moleculares (RT-PCR), rápidos de antigénio (TRAg) e serológicos. Os testes moleculares são o método de referência para o diagnóstico e detetam a presença do vírus SARS-CoV-2 em produto biológico extraído por zaragatoa do nariz e da garganta. Os resultados devem ser conhecidos entre 12 a 24 horas pois, antes da análise, é necessário replicar o material recolhido (RNA) múltiplas vezes. Os testes rápidos de antigénio identificam proteínas do vírus, sendo o material biológico colhido por zaragatoa, mas o resultado fica disponível em 20 a 30 minutos. Este teste tem indicação precisa, devendo ser utilizado nos primeiros cinco dias de doença, de forma a diminuir os falsos negativos. Também podem ser usados nos rastreios quando os moleculares não estão disponíveis. Os testes serológicos pesquisam anticorpos produzidos pelo organismo humano, quando está em contacto com o vírus.

31. O que são os testes serológicos?
Os testes serológicos avaliam se a pessoa desenvolveu anticorpos para a Covid-19 a partir de uma gota de sangue. Se desenvolveu é sinal de que esteve em contacto com o vírus. Porém não são utilizados para o diagnóstico da Covid-19 por não existir evidência científica suficiente sobre o significado da presença dos vários anticorpos no sangue. Têm utilidade clínica muito limitada, mas podem ser utilizados em estudos epidemiológicos e em investigação.

Os testes rápidos são utilizados se houver sintomas, apenas nos primeiros cinco dias de doença, de forma a diminuir os falsos negativos. O teste molecular é a referência para o diagnóstico e rastreio da infeção por SARS-CoV-2”

32. Qual é a sensibilidade de cada um destes testes?
Os testes rápidos de antigénio têm sensibilidade superior a 90%. Quanto aos testes moleculares, tanto a sensibilidade como a especificidade são superiores a 99%.

33. Um contacto com um caso positivo é sempre critério para a realização de teste?
De acordo com a evidência científica, um contacto com um positivo não tem sempre indicação para fazer teste. No entanto, havendo disponibilidade de testagem e de forma a cortar precocemente a cadeia de transmissão, devem ser realizados.

34. Se houver essa indicação, quanto tempo após o contacto deverei esperar para fazer o teste?
Após o contacto com uma pessoa infetada o período de incubação pode ir de 2 a 14 dias. Assim, nos primeiros dias a probabilidade de se ter desenvolvido a resposta do organismo ao vírus é pouco provável. Talvez entre o 5º e o 7º dia, na maioria das pessoas, já possa ser detetado o vírus.

35. Se o resultado for negativo, posso sair de casa e regressar ao trabalho ou à escola?
A realização do teste não altera as orientações se o teste for negativo. Sendo o período de incubação até 14 dias, o isolamento deve durar também 14 dias. Logo não pode sair de casa nem ir ao trabalho antes de terem decorrido 14 dias após o último contacto com o indivíduo infetado.

36. Quando é que é necessário repetir um teste?
Após um teste positivo não há indicação para repetição de teste para determinar a cura. Se o doente estiver três dias sem febre e com melhoria significativa dos sintomas pode ter alta, sem teste, ao 10º dia se a doença foi ligeira a moderada, ou ao fim de 20 dias se a doença foi grave ou crítica. Contudo, os profissionais de saúde e os prestadores de cuidados de elevada proximidade a pessoas vulneráveis, incluindo profissionais das estruturas residenciais para idosos, devem ter um teste negativo para retomar o trabalho.

37. Que entidades podem prescrever testes de diagnóstico?
Na suspeita de doença, os testes podem ser prescritos por qualquer médico ou pela linha SNS24.

38. Qual a vantagem de uma empresa ou instituição fazer testes a toda a equipa?
Os testes de rastreio dão uma imagem dos trabalhadores perante a Covid num determinado dia, permitindo isolar doente de não doente. Contudo, se não houver ninguém sintomático a probabilidade de haver positivos é baixa. No entanto, perante a existência de alguém positivo numa empresa, o rastreio a todos os trabalhadores pode ter muita utilidade na quebra das cadeias de transmissão da doença.

39. Posso fazer um teste serológico por iniciativa própria?
Sim, pois estão disponíveis no mercado. Podem também ser prescritos por médicos em circunstâncias muito específicas, nomeadamente no caso de haver dúvida se o doente já esteve em contacto com o vírus, mas não são comparticipados pelo SNS.

40. Fiz um teste serológico, e comprovou que estive em contacto com o vírus e desenvolvi anticorpos. Significa que estou protegido?
Essa é uma pergunta muito pertinente, mas a resposta não é fácil pois, neste momento, ainda não se consegue correlacionar os valores apresentados no teste imunológico com aqueles que conferem imunidade, nem sequer quanto tempo essa imunidade se vai manter. Importante é que este tipo de teste não permite excluir a possibilidade de se estar doente com Covid. MR

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