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Música

Um compositor francês com percurso original inspira próximo “Caderno Filarmónico”

O Ensemble de Sopros de Leiria esteve quatro dias em gravações para o próximo volume do projeto “Cadernos Filarmónicos”, que será dedicado a Serge Lancen.

Durante quatro dias, o Ensemble de Sopros de Leiria gravou no Auditório das Chãs Joaquim Dâmaso

Serge Lancen (1922-2005) tem um percurso inesperado, artisticamente falando. O compositor francês, de quem se celebra o centenário este ano, cresceu em meio erudito, numa família dedicada à música sinfónica, ao piano e às cordas. E foi no Conservatório de Paris que ele próprio estudou piano e composição.

“Mas é um caso um pouco estranho”, frisa Margarida Neves, investigadora, que estudou a biografia e o repertório de Lancen para o terceiro número dos “Cadernos Filarmónicos”, coleção que a Associação de Filarmónicas do Concelho de Leiria (AFCL) edita e promove desde 2020.

“Por influência de um amigo que tocava numa banda, no início da década de 60 do século XX ele começa a escrever para sopros”, família de instrumentos que contrasta com o “habitat natural” de Lancen, mais habituado às cordas e piano, “mais delicados e mais eruditos, eventualmente”, porque os sopros “não estão associados à elite”, lembra Margarida Neves.

A pesquisa sobre a vida e obra do francês revelou-lhe esse contraste: “Ele tem formação mais do lado erudito e intelectual mas, por influência desse amigo que o incentiva a escrever para o seu grupo – que não tinha muito repertório -, ele escreve, ouve e gosta muito”. Aprecia, sobretudo, “o impacto que a música de sopros tem”, mas também “os timbres e a coesão do todo que uma orquestra de sopros consegue”.

A partir daí, o compositor, “bastante conhecido em França e com ligação à Holanda e aos Estados Unidos da América”, rende-se aos sopros, deixando de lado a linha de composição que tinha seguido até aí. “Há uma mudança no percurso dele, na dedicação dele”.

Na semana passada, quatro obras desse segundo período foram registadas pelo Ensemble de Sopros de Leiria, para acompanharem o próximo “Caderno Filarmónico”, a lançar em breve. Foram quatro dias no Auditório das Chãs, com vários músicos no ensemble, entre eles a própria Margarida Neves, que tocou flauta.

Natural da Loureira, Santa Catarina da Serra, Margarida começou a aprender música na Filarmónica do Soutocico. Prosseguiu estudos no Orfeão e formou-se em Música, com especialização em flauta, em Aveiro. Atualmente é professora no Conservatório de Música e Artes do Dão.

“Estar a tocar neste projeto foi maravilhoso”, confessa. Envolvida nos últimos anos num doutoramento, nas Chãs a flautista teve oportunidade de voltar a tocar, “depois do covid, ainda por cima com outros músicos” e “com um maestro como Alberto Roque”.

“Sabemos sempre que os nossos ouvidos estão em boas mãos, porque Alberto Roque é uma pessoa que sabe o que está a fazer e é um grande conhecedor de sopros”, elogia a investigadora e instrumentista, que foi aluna do maestro há cerca de 20 anos.

“Foi muito bom voltar”, ainda para mais com um repertório tão sui generis como o de Serge Lancen, que “usa essa formação que teve, que pode ser considerada mais erudita, para explorar tecnicamente a composição nos sopros, que normalmente não têm essa dedicação”.

Este projeto da AFCL, realça Margarida Neves, “é também uma maneira de mostrar que há música de grande qualidade escrita para esta formação” de sopros.

“Existe muito boa música que pode ser tocada por bandas filarmónicas e orquestras civis e esta é uma excelente maneira de a dar a conhecer, não só ouvindo mas também através destes textos sobre esta música e os compositores”, conclui.

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