Quase todos descobrimos tarde que a “vida ativa” nos afasta da realidade que está para além do nosso espaço quotidiano, apesar de as novas tecnologias terem transformado o Mundo numa pequena aldeia. Vemos, então, que não é a mesma coisa apreciar os encantos dum lugar no ciberespaço ou sentir a sua magia visitando-o realmente. Eu confirmo-o cada dia, à medida que mo permite a minha nova “profissão” de “técnico superior de lazer”, na expressão de um amigo que sadiamente me inveja o estatuto. De facto, o prazer de viajar livremente pelos mais variados lugares tem-me tornado confortável a assumida condição de “homo viator” (“homem viajante”), e não apenas no sentido da expressão em Gabriel Marcel – o do ser que caminha em busca de sentido para a vida. Todos viajamos insatisfeitos pelos diferentes espaços e tempos das nossas vidas, construindo esperança. E essa condição impõe-nos a urgência de viver intensamente os tempos e visitar o maior número de espaços, sem pressas de chegar ao último destino. Importa saborear serenamente cada etapa como uma página dum livro surpreendente, para usar a conhecida imagem de Santo Agostinho (cito de cor): “o mundo é um livro e quem não viaja só lê uma página”.
Por mim, vou-o folheando ao meu ritmo, enquanto imagino, como estímulo, o que diria e faria Agostinho se vivesse em tempo de autocaravanas e aviões.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>(texto publicado na edição de 11 de setembro de 2014)