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Escrevivendo: Annus horribilis?

Desde que a rainha Isabel II, num discurso de 1992, recuperou esta velha expressão latina, não falta quem lhe pegue para carimbar este ou aquele ano de desgraças acumuladas na vida de uma pessoa ou instituição.

António Gordo, professor (ap.)antoniogordo@gmail.com
António Gordo, professor (ap.) antoniogordo@gmail.com

Desde que a rainha Isabel II, num discurso de 1992, recuperou esta velha expressão latina, não falta quem lhe pegue para carimbar este ou aquele ano de desgraças acumuladas na vida de uma pessoa ou instituição. Hoje parece-me aplicável ao nosso país, em relação a 2014, apesar da dificuldade em distinguir este ano dos anteriores. De facto, 2014 surge como ponto de confluência de rios de nódoas que têm conspurcado a imagem de Portugal, numa enxurrada de histórias mal contadas sobre diplomas, sobreiros, medicamentos, submarinos, obras públicas e privadas, bancos, offshores, PPPs, fundações, vistos e outras “malabarices” douradas. E, embrulhada nisso tudo, sempre gente muito competente e muito séria, “acima de qualquer suspeita”, sempre guiada pelo “interesse do país”, sempre “em conformidade com a Lei” e sempre de “consciência tranquila”…

Só que a enxurrada tornou-se incontrolável e fez vítimas. Todas inocentes, é claro. Para tais “vítimas”, umas identificadas outras ainda não, 2014 deve ter sido um “annus horribilis”. “A contrario”, para mim e para quem vê em algumas recentes atuações da Justiça um sinal promissor de que, de facto, ninguém está acima da lei, o ano de 2014 merece mais o rótulo de “annus mirabilis”.

E é-me grato terminar este último fragmento do meu “escrevivendo” com esta nota positiva de esperança num Portugal mais justo, limpo e democrático.

(texto publicado na edição de 4 de dezembro de 2014)