Ao que consta, no próximo dia 23 em Díli, a Guiné Equatorial passará a ser o nono país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Portugal baseou sempre a sua oposição, isolada mas correta, na violação de dois requisitos estatutários: os direitos humanos (a Guiné vive num regime ditatorial, com graves atropelos aos direitos humanos, incluindo pena de morte); e, naturalmente, o não ter o português como língua oficial. Coisas de pouca monta, afinal, quando as perspetivas económicas tornam mais apetecível a pertença a uma comunidade que poderá vir a produzir tanto petróleo quanto hoje é assegurado pelo Médio Oriente.
Que aconteceu para que Portugal calasse a consciência e retirasse o veto? Muito simples: a Guiné suspendeu a pena de morte (dias depois de quatro execuções!) e declarou o português língua oficial, a par do castelhano e do francês. Formalmente, tudo resolvido. Mesmo que ninguém fale o português (e poucos o francês ou mesmo o castelhano). Interessa economicamente? Então, estatutos, língua e direitos humanos não são problema. Sinal dos tempos. Podiam, ao menos, mudar o nome à confraria. No mínimo, para qualquer coisa tipo “CPLP, S.A”. Ou “CPLP & Friends”.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Grande sapo! Só que, desta vez, é a língua que não deixa engolir, pelo menos para quem alimenta o coração de coisas bonitas, como “a língua é o lugar donde se vê o mundo” ou “a minha pátria é a língua portuguesa”.
(texto publicado na edição de 17 de julho de 2014)