Filmes sobre o mundo da política sempre me interessaram, principalmente aqueles que se dedicam ao submundo da mesma, como “Os Homens do Presidente” (sobre Watergate) ou então os que, noutro ambiente, recriam tudo o que a política tem de bom e mau, como “Eleições” de Alexander Payne.
Normalmente, o elemento em comum é um escândalo como em “Cores Primárias” (a vida sexual de um candidato) ou “O Jogo do Poder” (a vida sexual de uma candidata), garantindo as variantes dramáticas e/ou de thriller. Já entre Hollywood e a Europa a diferença é que cá se prefere filmes sobre ideologias e pessoas, anónimas ou não (“Palombella Rossa”, “A Culpa é de Fidel” ou “O Meu Irmão é Filho Único”) e os norte-americanos preferem uma abordagem mais à “CSI”, onde o funcionamento da máquina é o cenário ideal para a trama.
E o filme sobre esta temática mais recente, “Nos Idos de Março”, que parece ser apenas um mero exemplo dessa lógica é algo de muito maior, já que o realizador, George Clooney, foi muito mais longe e construiu, com simplicidade desarmante, um tratado sobre o cinismo que é a política moderna.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Primeiro, reuniu um elenco de luxo com Phillip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, ele próprio e Ryan Gosling. Depois, agarrou numa imagem idealista (a colagem a Obama é assumida) para a ir corroendo com mestria, através de um argumento simples mas terrivelmente eficaz, fazendo o sonho estatelar-se na realidade, num pragmatismo frio que assenta na chantagem.
E não temos pena. Porque a única moeda usada em política é a lealdade. Ora, isto de andar a brincar com dinheiro a fingir dá sempre mau resultado. Mas o filme vale todo o vosso tempo. E uns prémios também.
(texto publicado na edição em papel de 13 de janeiro de 2012)