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Play it, Sam: Amor de Pai

Há dias fui convidado para um programa numa das rádios locais. A ideia era falar sobre o Dia do Pai, nas suas várias vertentes. A mim coube-me a parte jurídica.

João M. Alvim, advogado jmalvim@gmail.com

Há dias fui convidado para um programa numa das rádios locais. A ideia era falar sobre o Dia do Pai, nas suas várias vertentes. A mim coube-me a parte jurídica.

No entanto, e graças ao ambiente descontraído, foi possível uma conversa interessante que apenas pecou por não poder ser mais prolongada. E como a certa altura se falou no papel do Pai, no amor do Pai, não pude deixar de me lembrar de um dos filmes que retrata essa especial emoção de uma forma tão sensível e cativante que, apesar de estar na lista de favoritos de incontáveis pessoais, merece sempre que possível ser lembrado. Falo de “A Vida é Bela”, de e com Roberto Benigni.

À altura, já conhecendo alguma obra deste extraordinário comediante, não estava de todo à espera do belíssimo filme que ele realizou. Desde logo e porque apesar da 2ª Guerra Mundial não ser propriamente um tema virgem em termos de comédia, no caso da perseguição aos judeus e, mais concretamente, do próprio Holocausto, não é um terreno simples de pisar.

Mas Benigni conseguiu-o com uma das mais emocionantes misturas de drama e comédia que já vi. Partindo de terrenos assumidamente cómicos, com a história da paixão e amor entre Guido e Dora, de onde nasce o pequeno Giosué, o drama vai-se adensando com a deportação para um campo de concentração, onde o pai faz de tudo para convencer o filho que se trata apenas de um jogo, dando, em última análise, a própria vida, para que Giosué sobreviva o mais incólume possível. E é nesta parte final em que sem ser ligeiro ou melodramático em excesso, que Benigni roça o génio: é uma história de Amor, amor pelo outro, pelo filho, pela Humanidade, um amor tão grande que faz qualquer obstáculo, por mais monstruoso que seja, parecer pequeno. O cinema também é isto: a capacidade de mostrar que não há limites para o génio e que tudo pode servir para passar uma boa mensagem. E Benigni bem o soube fazer.

(texto publicado na edição em papel de 5 de abril de 2012)