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Play it, Sam: Revolta na Bounty

Algo de errado parece que se passa em Hollywood.

João M. Alvim, advogado jmalvim@gmail.com

Algo de errado parece que se passa em Hollywood. De ano para ano, juntando à pirotecnia na tela (principalmente com um 3D que, na minha humilde opinião, nada acrescenta), temos um marketing que roça o indigente, a encher salas com filmes baseados em argumentos vazios e com adaptações de adaptações que refletem uma massificação acéfala. Falta saber se é tática ou estratégia.

Mas analisando com algum cuidado a lista de estreias bem como os filmes que, alguns por meios menos convencionais, por aí aparecem, constata-se que a mentalidade Bruckheimer ainda não implodiu com a oferta variada e, sobretudo, inteligente e alternativa. Mas se o cinema foi quase desde o seu início um mero negócio, não espanta que haja uma aposta na maximização de lucros, mesmo que à custa de investimentos faraónicos, criando filmes e sequelas que, no que toca à história da 7ª arte, apenas deixarão de rasto os dólares (e já não será pouco, dirão alguns). Mas numa altura em que o potencial de divulgação fora dos meios normais é cada vez maior (principalmente com o “megafone” Facebook) e em que facilmente se chega ao que de mais alternativo é feito por aí fora, a imagem habitual de Hollywood, afinal, não chega para absorver tudo o que se passa no mundo do cinema. Mesmo que as distribuidoras façam esse jogo e levantem imensas dificuldades a quem queira ir além de Battleships e quejandos.

Note-se, eu quero ver “American Pie – o Reencontro”, mas isso é porque, por vezes, gosto de me rir com coisas assumidamente estúpidas e despretensiosas. Mas já dispensava um “Titanic” em 3D. Se já a versão original era um bocejo com o par com menos química do mundo (e não falo do barco e do iceberg), rever a coisa em 3D, atendendo a que só tem mesmo piada do embate para a frente, roça o macabro.

(texto publicado na edição em papel de 20 de abril de 2012)