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Covid-19

Covid-19: Surtos no Centro Hospitalar de Leiria registaram 52 óbitos entre 151 doentes infetados

Desde o início da pandemia, morreram 350 doentes com Covid-19 nos três hospitais do CHL

Os vários surtos de Covid-19 detetados nos últimos quatro meses nas três unidades do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) totalizaram 52 óbitos até à passada terça-feira, o que corresponde a um terço dos doentes que foram infetados em contexto hospitalar até àquela data.

Segundo dados obtidos pelo REGIÃO DE LEIRIA, junto do CHL, os surtos registados em vários serviços dos hospitais de Leiria, Pombal e Alcobaça infetaram, até 26 de janeiro, 151 doentes e 89 profissionais, num total de 240.

Os serviços de Medicina Interna (SMI) foram os mais afetados, tendo sido diagnosticados nas três unidades hospitalares 118 casos de infeção entre doentes e 81 entre profissionais. Resultaram 39 óbitos nestes serviços.

Só no Hospital de Santo André (HSA), o SMI contabilizou 65 doentes e 47 profissionais infetados, havendo registo de 23 mortes.

Um surto detetado no Serviço de Pneumologia do HSA infetou por sua vez 22 doentes e três profissionais. Morreram 11 doentes. Foram ainda detetados focos de infeção na Cirurgia 1, em que dois dos quatro doentes infetados faleceram, e na Ortopedia, onde quatro doentes e cinco profissionais testaram positivo.

No Hospital de Alcobaça Bernardino Lopes de Oliveira (HABLO), o surto de Covid-19 detetado a 15 de janeiro no SMI contagiou 25 doentes e 13 profissionais, tendo falecido quatro pessoas. Houve ainda registo de infeções na Unidade de Internamento de Curta Duração (UICD) com três doentes positivos.

Quanto ao foco de infeção que atingiu o SMI do Hospital Distrital de Pombal (HDP) no início do ano, morreram 12 de entre 28 doentes infetados, tendo 21 profissionais testado também positivo para o novo coronavírus.

Além das mortes associadas a estes surtos, o CHL registou cerca de 300 óbitos de doentes com Covid-19 – totalizando 350 até hoje, 29 de janeiro -, número que “está em linha com o padrão nacional” no que toca à letalidade registada em ambiente hospitalar, adianta Licínio Carvalho, presidente do conselho de administração.

Em resposta escrita ao REGIÃO DE LEIRIA. Licínio Carvalho dá ainda conta das variáveis que o CHL não consegue controlar e do que está a ser feito para garantir a segurança dos doentes internados e dos que precisam de recorrer aos serviços do hospital, bem como dos profissionais.

E deixa um apelo para que as pessoas fiquem em casa, cumpram as regras do confinamento e de proteção de modo a quebrar as cadeias de transmissão do vírus.

Licínio Carvalho: “Uma morte que seja é um número extremamente elevado”

Licínio Carvalho garante que “são cumpridos escrupulosamente todos os protocolos de segurança” Fotografia: Joaquim Dâmaso

O número de doentes (151) e profissionais (89) infetados nos vários surtos registados até ao momento é elevado (240 no total). Foi possível apurar a origem destes surtos?

Não há termo de comparação para afirmar que o número é elevado, uma vez que não há informação sistematizada que o permita fazer. Para nós, é sempre elevado, porque causa sofrimento, causa mortes, causa problemas às pessoas. Não tem sido possível apurar a origem dos surtos, apesar dos esforços feitos nesse sentido, uma dificuldade que é geral.

Um terço dos doentes infetados [nestes surtos] faleceu. É um número extremamente elevado. O que explica esta letalidade?

Uma morte que seja é um número extremamente elevado e que todos lamentamos. Os doentes que faleceram no CHL, 350, representam cerca de 3,3 % do total de óbitos que até agora ocorreram em ambiente hospitalar em todo o país. Servindo o CHL cerca de 4% da população portuguesa, e tendo esta região um elevado volume de utentes idosos, acreditamos que é um número que está em linha com o padrão nacional.

Um hospital é um sítio onde se curam doentes, onde circulam vírus e bactérias. E quando esses vírus e bactérias circulam descontrolados na comunidade, mais dificilmente se impede que entrem num hospital. Ninguém, em parte nenhuma do mundo, pode dar garantias de que num hospital ninguém se infeta”

Licínio Carvalho, administrador do CHL

Estes doentes foram internados por outros motivos que não a Covid. Como explica a evolução e a gravidade destes surtos?

Não há uma explicação direta e geral. Depende de cada caso e de inúmeras variáveis, as mais importantes das quais são a idade e as comorbilidades, que são patologias de base que aumentam o contágio e o risco de letalidade.

Que medidas foram tomadas para reforçar a prevenção de novos surtos e de novos contágios nos internamentos?

O CHL revê constantemente os seus procedimentos e adapta-os de acordo com as necessidades e a evolução da pandemia e do conhecimento científico; revê continuamente os circuitos dos doentes e dos profissionais; reforça as ações de formação junto dos profissionais; e realiza visitas ativas aos internamentos através dos membros do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (GCL-PPCIRA). A questão é o recrudescimento da pandemia, quanto mais o vírus circular na comunidade, mais provável é a infeção. De toda a gente e em todo o lado.

Que variáveis o CHL não consegue controlar?

Não conseguimos controlar, especialmente, o acesso dos utentes às urgências (continuamos a ter uma taxa de não urgentes e pouco urgentes de perto de 50%) e o comportamento das pessoas e a disseminação do vírus na comunidade. Essa é a variável fundamental: se as pessoas ficarem confinadas e cumprirem as regras, a pandemia acaba. Caso contrário, continua, e cada vez com mais força, porque surgem mutações no vírus que o tornam mais contagioso e mais letal. Gostávamos muito de controlar esta variável, mas não somos capazes. Podemos, sim, apelar ao bom senso das pessoas e ao seu sentido de responsabilidade, o que fazemos sempre e agora mais uma vez: “Fique em Casa!”

Como garante o CHL aos utentes que existem condições de segurança para quem é internado?

Podemos garantir apenas, como é óbvio, que são cumpridos escrupulosamente todos os protocolos de segurança. O CHL é acreditado pela Joint Commission International (JCI) e esta condição obriga a uma enorme exigência em termos de segurança dos utentes e dos profissionais. Acresce que a segurança sempre foi e é muito cara ao CHL, tanto mais que criámos uma nova urgência específica para suspeitos de Covid e separada da urgência geral e com circuitos autónomos, para garantir condições de segurança acrescidas. De resto, um hospital é um sítio onde se curam doentes, onde circulam vírus e bactérias. E quando esses vírus e bactérias circulam descontrolados na comunidade, mais dificilmente se impede que entrem num hospital. Ninguém, em parte nenhuma do mundo, pode dar garantias de que num hospital ninguém se infeta. Fazemos o apelo de sempre: “fique em casa, se tiver sintomas de infeção pelo coronavírus ligue para a linha Saúde 24, dirija-se ao seu centro de saúde ou ao ADR-C, que funciona no estádio municipal. E vá às urgências só se for mesmo urgente. Mas se for, não deixe de ir, que cuidaremos de si da melhor forma possível”.

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