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Leiria

Sítio do Menino do Lapedo foi vandalizado. Câmara de Leiria apresentou queixa-crime

Os danos no Abrigo do Lagar Velho foram detetados no início do mês no decorrer de uma visita guiada ao local

A parede de fundo do abrigo foi objeto de "raspagens e extrações indevidas" FOTO: CML

O sítio arqueológico onde foi descoberto o Menino do Lapedo, no Abrigo do Lagar Velho, em Santa Eufémia, foi recentemente vandalizado. A Câmara de Leiria já apresentou uma queixa-crime à GNR e reportou a situação à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e à Direção de Cultura do Centro.

Segundo informa a autarquia em comunicado, os danos foram detetados durante uma visita guiada ao local, realizada no passado dia 6, tendo os técnicos do município verificado “raspagens e extrações indevidas”, nomeadamente “a remoção de cerca de 10 centímetros de espessura do contexto arqueológico e a existência de inúmeros materiais arqueológicos espalhados na base pétrea que sustenta o Testemunho Pendurado [reentrância localizada na parede de fundo do abrigo] e na cota de solo atual do sítio” .

No comunicado divulgado este sábado, o município de Leiria diz repudiar veementemente o ato de vandalismo que considera “inqualificável”, por atingir “um achado de extrema importância no concelho de Leiria e de relevância internacional”.

O caso foi objeto de notícia na edição de hoje do jornal Público, que dá conta de que foram encontrados no chão “centenas de fragmentos de ossos e de instrumentos feitos em pedra”.

Ainda segundo o município, os depósitos existentes no Testemunho Pendurado revelaram “contextos arqueológicos datados entre 26.000 e 24.000 anos”, tendo sido “identificados abundantes artefactos líticos, entre os quais uma ponta de face plana e dois fragmentos de folha-de-loureiro (artefactos considerados como fósseis-diretores para o Solutrense médio), carvões, termoclastos e vestígios de peixes, anfíbios, mamíferos, répteis e aves”.

Data de 1998 a descoberta no Vale do Lapedo do esqueleto de uma criança com cerca de cinco anos, que terá sido ali enterrada há cerca de 29.000 anos, num contexto que se presume “marcadamente ritual”, dado os vestígios encontrados no local, entre os quais “uma mortalha tingida de ocre, elementos de adorno feitos com conchas e dentes de veado, e vestígios de carvões de pinheiro”.

“O estudo científico deste esqueleto veio revelar a presença de um conjunto de características anatómicas compósitas, correspondentes a Homo neanderthalensis e a Homo sapiens, o que sugeriu a então controversa hipótese de miscigenação entre estas populações. A sequência sedimentar identificada no Abrigo do Lagar Velho integra ocupações do Paleolítico Superior, com cronologias entre cerca de 30.000 a 20.000 anos”, explica ainda o município, frisando a importância do achado e dos trabalhos arqueológicos realizadas nos últimos anos, de que destaca o projeto de investigação “O Abrigo do Lagar Velho e os primeiros humanos do extremo ocidental europeu”, desenvolvido pela Universidade de Lisboa e pela DGPC.

O Abrigo do Lagar Velho foi classificado em 2013 como Monumento Nacional e o Vale do Lapedo como Zona Especial de Proteção (ZEP). Já o esqueleto do Menino do Lapedo e artefactos arqueológicos associados foram classificados como bens de interesse nacional, com a designação de “tesouro nacional” no ano passado.

Pelo “valor patrimonial, científico e histórico que representa para a história da evolução humana”, a autarquia destaca ainda a importância do achado para a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura em 2027, considerando-o “um dos elementos predominantes”.

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