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Cultura

Fim do World Press Cartoon nas Caldas da Rainha era “uma morte anunciada”

O diretor do WPC considera que a mudança eleitoral, que ditou a vitória do atual executivo em 2021, foi decisiva para o fim do projeto.

Inaugurada em 2021, a escultura em bronze de Bordallo Pinheiro e Zé Povinho, desenhada por António e executada pelos artistas Carlos Constantino e José Carlos Almeida, foi a única concretizada do projeto de levar arte às ruas de Caldas da Rainha que contemplava o Word Press Cartoon

O fim do apoio do município das Caldas da Rainha ao World Press Cartoon (WPC) era “uma morte anunciada”, considera o diretor do projeto que estava sediado na cidade desde 2017.

O anúncio foi feito no final de agosto mas António Antunes, o cartunista António, já estava à espera deste desfecho.

A redução do orçamento para o concurso e exposição deste ano e as intervenções públicas do novo presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Vítor Marques, anunciando a avaliação e possível reconfiguração do projeto já faziam antever que o futuro do WPC.

“A redução deste ano veio sob a capa da covid, que é uma coisa que serve às mil maravilhas… Na abertura da exposição, o presidente falou várias vezes em mudar e constantemente na avaliação do projeto, sem nunca ter impressões comigo, o que acho um bocadinho estranho”, considera António.

“Nunca ninguém quis colocar a questão em cima da mesa sobre a forma de mudar ou não mudar. O WPC é uma entidade que existe: é uma marca, é uma empresa e tem uma direção. Projetos de mudança, a serem concertados, têm de ser entre as partes. A não serem concertados, quem tem o poder faz o que quer. E acho que foi isso que aconteceu”, acrescentou.

Para o diretor do WPC, o fim da ligação com Caldas “é desagradável porque tínhamos um plano, um projeto para uma cidade que tem ligação à caricatura e a Bordallo Pinheiro”.

“Queríamos fazer história ali”, admite o cartunista, mas “o projeto nem a meio caminho ficou”.  

Como contraponto às contas que o presidente da Câmara faz – em espetadores e gastos com a organização -, António Antunes diz que o comunicado divulgado pelo autarca “escamoteia outras coisas”, nomeadamente “a ideia de se fazer uma casa-museu do WPC, com o acervo dos prémios, das menções e mais trabalhos de pessoas que transitaram pelo WPC”, bem como “realizar exposições ao longo do ano” e “implantar esculturas de grande porte, caricaturais, por toda a cidade, algumas reproduções de obras de Bordallo e outras de autores contemporâneos”.  

“Queríamos que a caricatura, no sentido mais lato, fosse omnipresente na cidade e a tempo inteiro, não apenas no pico do WPC. Mas para isso é preciso trabalhar vários anos. Falou-se mas nunca se fez nada para a casa-museu [ser realidade]”, lamenta, recordando que, do restante projeto, apenas se tornou realidade a escultura do Zé Povinho e do Bordallo, na Rua das Montras. “O resto não se fez”.

António Antunes afirma que, num evento como o WPC, que “não é um concurso de caricaturas de bairro, ou sequer de região, ou tão pouco de país – é um concurso de desenho de imprensa a nível mundial”, “o custo custo-benefício não é imediato”.

Os números avançados pelo município revelam que o projeto, “apesar das coisas terem avançado com a anterior administração [da Câmara das Caldas da Rainha], com esta [o WPC] é um passo maior do que perna”.

“Estar a fazer as contas como o senhor presidente está a fazer, deve ser importante para ele do ponto de vista da sua sobrevivência política e da imagem que quer dar de si próprio. Mas é só uma parte da verdade. Era um projeto muito mais amplo”, reafirma.

Em geral, assume António, “um evento destes não gera receitas – então em Portugal de jeito nenhum. É preciso que uma câmara, os privados, o Estado, alguém patrocine um evento deteds, porque senão ele não consegue existir”. 

Antes das Caldas da Rainha, o WPC já esteve em Sintra e Cascais. O diretor acredita que “há mais vida para além das Caldas”, mas não garante que o salão internacional de caricatura regresse já no próximo ano:

“Não sei se conseguimos. Há uma saison para fazer isto: são desenhos sobre o ano transacto; diria que temos dois meses para encontrar uma alternativa e emitir o novo regulamento e o concurso. Se nesta janela de tempo conseguirmos qualquer coisa de bom, avançamos. Senão, metemos o projeto no armazém e depois logo se vê. Já tivemos três casas e quem tem três casas, pode ter quatro. Vamos ver o que vai acontecer a seguir”. 

Para António – que garante ir caricaturar a saída do WPC das Caldas da Rainha -, o evento foi vítima da mudança autárquica verificada no município em 2021.

“Já saí de dois sítios de por questões eleitorais. Desta e de Sintra. A terceira [Cascais] foi por um problema de casting, que nunca se resolveu… Aqui as eleições foram absolutamente determinantes para este desfecho. Mas até aqui [às eleições de 2021] o WPC conseguia uma coisa rara: reunia o apoio unânime de todas as forças políticas representadas na câmara…”.

Em todo o caso, António reconhece legitimidade na decisão do executivo liderado por Vítor Marques, eleito pelo movimento independente “Vamos Mudar”:

“É um movimento que quer criar uma rutura e tem o direito de o fazer, como é óbvio”.

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