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Sandra Francisco

Gestora de Redes Sociais no Politécnico de Leiria

Antologia do Improviso: MI.TI.GAR

Antes mesmo de acordar os músculos com um ‘shot’ de Chloe Ting, uma asiática a caminho dos quarenta, tão em forma que, especialmente na época balnear, nos incha a barriga e irrita os filamentos nervosos; estico os estores na esperança de mitigar certos enfados e acelerar o dia com reveladoras verdades “La Palice”. «O quê!? Não pode ser!» Deixem-me puxar a cassete atrás e explicar isto. Detesto a palavra “MI.TI.GAR” e eis-me aqui a prevaricar. Tenho a mania de achar que, além de significado, a junção das letras deve ser agradável e harmoniosa. Só eu, mas cá vai… Estas sílabas dão corpo a um pesadelo envolto em complicações, insistem em lembrar que a vida, a qualquer momento, nos pode mastigar. «Qual suavizar e amenizar!?» A simples entoação antecipa o peso de uma sentença iminente e o som da injustiça. «Delírios de lunáticos», dirão vocês e, provavelmente, com razão porque as subjetividades não pagam contas, o que esclarece o estado do meu saldo bancário.

«Então, conseguiste?» (quisera eu saber). «Estou para aqui a pensar em coisas sem nexo» e, ainda bem, já que as constantes explicações técnicas constipam-me o ânimo. Se quiser inventar em condições, preciso de ruídos, padrões de meias nas montras e de respirar além do oxigénio. Prestes a afundar-me em preocupações elementares, resolvo agitar os neurónios e sacudir os pensamentos com o senso comum de uma boa conversa de café. «Tenho a educação dos meus pais (sem poucas vergonhas) e não acho bonito dizer asneiras para aumentar a audiência de um programa de televisão. Numa mulher, fica feio, se bem que ela também já deu beijos na boca a outras e ao Manuel Luís Goucha, que eles são muito amigos». Embebida de espírito de missão, assisto afónica enquanto absorvo.

Claramente, não se deve menosprezar a voz de alguém que merece ser premiado com uma bebida por excesso de álcool. Quem se queixa de clausura involuntária, jamais privou com a transcendência de uma mente confinada. O melhor é mitigar e, à cautela, assistir ao “5 para a Meia-Noite”.

Ilustração: Jorge Morgado

(Artigo publicado na edição de 16 de julho de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)