Assinar

Escrevivendo: De religiões

A problemática das religiões já me levou a alguns estudos ditos superiores e leituras a propósito.

Antonio-gordo
António Gordo, professor (ap.) antoniogordo@gmail.com

A problemática das religiões já me levou a alguns estudos ditos superiores e leituras a propósito. Coisa pouca, porém, para me libertar da sensação dramática da insignificância do saber adquirido face à vastidão do não saber descoberto. A última vez que me senti esmagado por esta verdade foi ao ler A essência das religiões, de Huston Smith, que o Expresso ofereceu em seis pequenos volumes. O autor juntou-se-me a Mircea Eliade, com duas vantagens para Smith: maior vivência no seio das religiões apresentadas e uma invulgar capacidade de identificar o essencial de cada uma. Para isso, desvaloriza a história e as pesadas estruturas institucionais e, depois, procura identificar os caminhos oferecidos ao crente para resolver o drama do confronto da própria finitude com a vocação para a infinito.

A obra, embora sucinta, é clara. E duplamente pedagógica: leva-nos, em humildade, a respeitar o outro, e confronta-nos com a questão de saber porque é que, tendo as grandes religiões, no essencial, tanto a uni-las, se insiste mais no acessório que as separa. A resposta, implícita, resume-se numa palavra: ignorância. Ora, a ignorância é, por natureza, obstinada e feliz. Aliada à religião, então, gera uma mistura explosiva inigualável. E a história mostra-nos, à saciedade, os horrores a que o fundamentalismo religioso conduziu. Mais vale apostar no esclarecimento.

(texto publicado na edição de 27 de março de 2014)