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Leva se quiseres: Moral financia o pecado

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Tiago Granja Carvalho, bancário tiagogranja2000@gmail.com

Dois pilares sustentam a nossa democracia: I) a aceitação tácita do sistema capitalista enquanto modelo de criação de riqueza; e, II) o desejo coletivo de um Orçamento de Estado (O.E.) que sustente o sistema económico e que, por razões morais, reduza os seus danos promovendo o Estado Social.

A incoerência política com que se tem defendido estes pilares é esquizofrénica. Há quem considere moralmente correto penalizar quem mais riqueza cria. E há quem defenda menor Estado Social alegando que uma maior fatia na promoção do lucro gera mais crescimento económico. Ou seja, “peca-se” por gerar riqueza mas financia-se o “pecado” com a moral. A persistência neste tipo de paradoxos e o confronto permanente dos pilares desgasta-os. Há que encontrar um ponto que os una: um O.E. de conciliação.

Os pilares representam direitos e custos. O direito de viver em capitalismo tem um “custo”: os lucros (não nacionalizados) das empresas. E o direito das empresas gerarem lucros deve traduzir-se também num “custo” para estas: o O.E.

Existe assim um O.E. ideal, que não sendo demasiado elevado atrai empresas, e que, não sendo demasiado baixo, sustenta uma moral social desejada.

O Estado Social deve ser um objetivo e o sistema capitalista o jogo que aceitamos jogar para o financiar. Não é o contrário.

(texto publicado na edição de 17 de outubro de 2013)