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Olhares: O nosso tempo

Passamos a vida a correr contra o tempo, a lamentarmo-nos que “não temos tempo”, quando afinal o tempo só nos foge porque nós corremos contra ele.

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David Barreirinhas, pároco de Formigais, Ribeira do Fárrio e Rio de Couros padrebarreirinhas@gmail.com

Passamos a vida a correr contra o tempo, a lamentarmo-nos que “não temos tempo”, quando afinal o tempo só nos foge porque nós corremos contra ele. Construímos vias rápidas e máquinas velozes para ganhar tempo, mas é o tempo que foge e passa depressa sem nos permitir contemplarmos a paisagem de cada dia e saborear as paragens que a vida nos proporciona. Tornamo-nos escravos do relógio e cada vez sabemos menos “a quantas andamos”. Na ilusão de corrermos contra o tempo estamos a correr contra nós, pois não vivendo realmente, acabamos por queimar o tempo e a vida.

Como é difícil valorizar o tempo presente, vivendo o ritmo quotidiano da vida. Os mais velhos continuam a sonhar com o passado sempre “muito melhor” (no meu tempo é que era bom!), enquanto os mais jovens vivem obcecados com o futuro. Vamos contando os dias e os anos sem vivermos cada momento e cada dia: uns sempre atrasados ou desactualizados, outros tão avançados que parecem viver noutro planeta e fuso horário.

Necessitamos de dar tempo a nós mesmos, à família, aos amigos. Precisamos de perder tempo com coisas “inúteis”: pararmos a admirar o mistério do amanhecer, saborear a brisa da madrugada, escutar a polifonia dos pássaros que cantam, ouvir o silêncio das criaturas e decifrar as mensagens das estrelas.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 20 de fevereiro de 2014)