O ano de 2011 representou um ponto de viragem para as sociedades árabes. Após décadas de opressão, as revoltas sociais no mundo árabe tinham como objetivos a liberdade, a justiça e a garantia da dignidade humana. Contudo, a instabilidade criada pela Primavera Árabe aumentou a pressão humana na bacia do Mediterrâneo e despoletou duas grandes crises de refugiados (na Síria e na Líbia).
O conflito na Síria começou tem já dois anos. Desde então o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima em mais de um milhão o número de refugiados. Um milhão de vidas deslocadas e desesperadas. E todos os dias centenas de pessoas continuam a atravessar as fronteiras para procurar abrigo nos países vizinhos, na tentativa de escapar a esta tragédia. O alto comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, alerta que “a Síria é uma espiral para a plena escalada de desastre”.
Não podemos ficar indiferentes a esta realidade. Estamos perante um número que tem vindo a aumentar dramaticamente. Mas, mais do que números, falamos de pessoas. Milhares de seres humanos que se veem forçados a fugir do seu país devido à perseguição, violência e guerra. Uma guerra onde o estupro e violência sexual são usados como arma. Segundo o ACNUR, cerca de metade dos refugiados são crianças. Crianças traumatizadas que viveram os horrores da guerra e que, na maioria dos casos, perderam os seus familiares. Esta é já considerada uma das maiores crises humanitárias do século XXI e a solução para o conflito parece ainda estar longe, já que a situação no país se mantém bastante volátil.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>A crise na Síria tem também severos impactos nos países vizinhos. O aumento do número de refugiados cria uma enorme pressão nos países fronteiriços, que têm que lidar com o influxo de pessoas. Países, muitos deles, já a braços com crises internas, têm sido incansáveis no acolhimento destes cidadãos. Tal representa grandes esforços ao nível dos serviços de energia e água, dos sistemas de saúde e educação, de modo a garantir as condições de vida mínimas e a segurança humana dos refugiados.
A Primavera Árabe na Síria transformou-se num verdadeiro inverno, ou como outros lhe chamaram já, num inferno. A violação dos direitos e liberdades humanas é uma constante e o papel dos atores humanitários é essencial para salvar vidas e salvaguardar a dignidade humana.
(texto publicado a 18 de abril de 2013)