Quando se entra na renovada e restaurada Igreja da Misericórdia, três músicas acompanham desde os primeiros passos o visitante. No mais recente espaço cultural de Leiria, o Centro de Diálogo Intercultural de Leiria (CDIL), esses trechos musicais que remetem para as culturas medievais cristã, judaica e muçulmana são gravações do ensemble do espanhol Eduardo Paniagua, investigador, divulgador e intérprete de música medieval ibérica, especializado na produção musical árabe-andaluza.
Este domingo, dia 17 de dezembro, a visita ao espaço torna-se ainda mais especial: o próprio Eduardo Paniagua vem tocar ao CDIL, apresentando um programa que viaja pela música medieval de três culturas em tempo de Natal.
“O reportório remete para a época natalícia medieval, dando voz às diferentes culturas”, nota o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Leiria, explicando que Paniagua vem a Leiria “sensibilizado com o projeto [do CDIL]” e com “grande interesse em participar neste diálogo”.
Eduardo Paniagua, que canta e toca saltério e flautas, virá acompanhado de Luis Antonio Muñoz (canto e viola de arco) e Wafir Sheikheldin (canto, alaúde árabe e percussão). O grupo de música antiga representa “um exemplo extraordinário dos valores de fraternidade e interculturalidade que o CDIL deseja encarnar”, afirma o vereador, elogiando a linha de investigação de Paniagua, que “se tem pautado sempre no sentido de preservar o património musical das várias culturas que conviveram na península, nomeadamente na idade média: cristã, hebraica e islâmica”.
O concerto de domingo, dia 17, começa às 17 horas e tem entrada livre. Em tempo de Natal, é um contributo para “a necessidade de tolerância entre os povos”:
“Através das músicas de Eduardo Paniagua, iremos viajar a um Natal medieval, um Natal que em Leiria seria vivenciado por Cristãos, e observado por Judeus e Muçulmanos, que não o praticando tinham festividades próprias distintas”, acrescenta.
- “Danza de la conquista de Almería”, Cantiga 353 / “Os três reis Magos”, Cantiga 424 de Afonso X, o Sábio (1275)
- “La bestiola”, Cantiga 354 / “Espirito Santo”, Cantiga 427 de Afonso X, o Sábio
- “Sobre los fondos del mar, Cantiga de Tunes”, Cantiga 193 de Afonso X, o Sábio
- “El icono de Damasco”, Cantiga 9 / “Santa Maria de Lugo”, Cantiga 77 da Afonso X, o Sábio
- “Nani, nani”. Canção de embalar judeu/sefardi espanhola, século XV
- “Noite maravilhosa”, Leilum hadzib. Betayhi Garibat al Husein. / “Todos os amantes”. Ram al Maya. Andaluza, tradição de Marrocos
- “O que da guerra”, CBN 496, Afonso X, o Sábio, contrafacta Cantiga das Mayas CSM 406 de Afonso X, o Sábio / “Ahora aparecen secos los árboles, Ara pareisson lláubre sec”, Alegret, aproximadamente 1145, contrafacta de canção andaluza de Núba al-Maya
- “Tristeza, quien á mí vos dio, Alonso”, Século XV, melodia de Consoladme niñas, canção andaluza, Tunes
- “La chica soltera”. Dança andaluza de casamento, tradição de Tunes
- “El romero de Santiago”, Cantiga 26 de Afonso X, o Sábio (1275)
Desde o final de julho até ao final de novembro deste ano, o Centro de Diálogo Intercultural de Leiria (CDIL) recebeu 6.199 visitantes. O município, através de Gonçalo Lopes, considera a afluência “francamente positiva”, sublinhando o caráter da nova dupla proposta cultural da cidade, que propõe a interpretação de “memórias de Leiria” e “novas abordagens identitárias”.
Segundo o vereador, é de esperar um incremento no número de visitas após o lançamento da programação para o CDIL, que está a ser preparada: “Acrescentará mais-valias ao projeto que já é reconhecido pela excelente intervenção de conservação e restauro da Igreja da Misericórdia, a que se adicionou um projeto de musealização sóbrio, mas enriquecedor”.
A reabertura da Casa dos Pintores com novos conteúdos, que ajudam a conhecer e perceber a história de Leiria, concretizou “não um mas dois novos polos culturais” no centro histórico da cidade, sublinha.
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Anónimo disse:
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