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(Des)arrumar ideias: A morte do artista #2

Vivemos tempos difíceis, em que muitos vislumbram o futuro incerto e instabilidade profissional.

Patrícia Martins, animadora Cultural patriciafrmartins@gmail.com

Vivemos tempos difíceis, em que muitos vislumbram o futuro incerto e instabilidade profissional. Uns fazem contas à vida contando tostões, fazendo-os render até ao fim do mês. Outros estão desempregados ou com trabalhos precários, e muitos são profissionais da cultura e das artes, que não obstante uma crise que nos afeta a todos, se veem a braços com a desvalorização do seu trabalho e com uma ausência de valores que reconheçam a importância do sector cultural e criativo.

Há quem se recuse a pagar por discos, filmes ou jornais, porque os consegue de forma fácil e gratuita à distância de um clique. Uns porque humildemente admitem ter de o fazer, em alternativa ao pão na mesa, renda da casa e sobrevivência condigna do dia-a-dia. Outros, a grande maioria, pela desvalorização do trabalho cultural e pela efemeridade que a partilha virtual e a reprodutibilidade trouxeram, não aceitando pagar o justo valor pela criatividade. Graças a esta desvalorização do trabalho criativo, a indústria atravessa e atravessará um período difícil, assim não exista em breve uma (r)evolução nas mentalidades.

Todos reconhecemos o pão como comida para a boca, aceitando pagar por ele, então porque não assumir a cultura como alimento para o espírito, assumindo o seu justo valor?

É a morte do artista encoberta com capa de crise económica, quando a verdadeira é a crise de valores.

(texto publicado a 30 de novembro de 2012)